Porto Alegre está para absorver, com as palmas e críticas previsíveis, uma concepção ainda incomum na cidade, tratando-se de obras viárias. Com a construção de dois viadutos estaiados, o poder público admite estar apto a gastar mais, sob o argumento de embelezar a Capital.
Os viadutos estaiados, que substituem a sustentação de vigas por cabos de aço, são a grande moda arquitetônica e de engenharia, hoje, no Brasil. Em 2008, a construção da Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira, em São Paulo, causou polêmica.
Criticada, no início, por sua suntuosidade — custou R$ 260 milhões —, virou ponto turístico e palco de desfile de moda. Inaugurado no início deste ano, o viaduto da Unisinos, em São Leopoldo, é um exemplo mais próximo. Nesta semana, moradores dos arredores interferiram o trânsito da região para pedir uma travessia de pedestres na região.
Em Porto Alegre, a novidade é prevista para se materializar no período da Copa do Mundo de 2014. Um pouco antes do evento esportivo, a Capital deverá ganhar um viaduto estaiado misto (os cabos são içados somente no pórtico central da estrutura) sobre a Avenida Padre Cacique, próximo ao Museu Iberê Camargo. Ele fará a transposição da Padre Cacique entre as avenidas Pinheiro Borda e Edvaldo Pereira Paiva.
O maior projeto, porém, virá depois da Copa. Uma megaestrutura estaiada de dois andares — em cima passarão carros e, embaixo, ônibus — atravessará sobre a Avenida Bento Gonçalves pela Avenida Aparício Borges/Salvador França (Ter
ceira Perimetral). Terá 540 metros de comprimento, seis faixas de tráfego (duas para ônibus e quatro para os demais veículos) e vão livre (sem vigas) de 50 metros de extensão.
As duas obras sairão mais caras do que se fossem erguidos viadutos comuns. O da Pinheiro Borda custará R$ 28 milhões e o da Terceira Perimetral, R$ 76 milhões. A prefeitura usa o valor de R$ 21 milhões do futuro viaduto da Avenida Julio de Castilhos, não estaiado, como comparação de valores porque suas dimensões são equivalentes às do que será construído na Pinheiro Borda. Quer dizer, uma estrutura estaiada tem preço 33% maior do que a usual.
Assessor técnico da Secretaria Extraordinária da Copa 2014, o engenheiro Rogério Baú usa constantemente a palavra "esbelteza" para defender os viadutos estaiados. A segurança no trânsito também é citada pelo engenheiro.
— Para a gente fazer esse prolongamento da Pinheiro Borda, precisamos vencer um grande vão. Para isso, seria preciso colocar muitos pilare
s, tornando a Padre Cacique insegura para os motoristas. A alternativa é um viaduto estaiado. Além disso, temos a questão da poluição visual — explica.
A licitação para execução das obras foi aberta nesta semana.
IAB pede debate público sobre as obras
Ser a tecnologia da moda não significa garantia de adequação. O alerta é do presidente da seção gaúcha do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Tiago Holzmann da Silva. Ele lista o Viaduto Otávio Rocha, não estaiado, como exemplo de excelência na cidade. Por tudo isso, Holzmann defende uma discussão pública sobre as obras:
— Uma ponte estaiada perto do Museu Iberê Camargo pode ser uma boa. Ou muito ruim. Então, cabe uma discussão pública. A obra tem que ser apresentada, não pode ser imposta.
Além de pedir o debate com a população sobre a obra, o IAB critica a prefeitura por ter recebido os projetos por meio de doação. A entid
ade defende concurso público para escolha de projetos.
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