Maurício Andrés Ribeiro*
O que faz um arquiteto projetar prédios que exigem uso intensivo de ar condicionado, que demandam alto consumo de energia, desadaptados do ambiente natural, num clima tropical, num design que desperdiça recursos naturais e que provoca a emissão intensa de gases de efeito estufa?
Resposta: a) Inconsciência sobre os impactos do seu projeto. (b) Inconsciência ecológica. c) Ganância: quanto mais caro o projeto, maior a remuneração do arquiteto. d) atendimento a demandas de clientes inconscientes e) outros.
Qualquer que seja a resposta a essa questão, ela é relevante, pois o projeto e a construção do habitat humano e toda a cadeia produtiva da construção civil demandam muitos recursos naturais e provocam impactos ambientais e emissão de gases de efeito estufa. O IPCC – Painel intergovernamental de mudanças climáticas identificou nesse setor grandes possibilidades para colaborar para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Como despertar a consciência ecológica em engenheiros, arquitetos e urbanistas e demais profissionais que constroem o ambiente? Aventamos sete possibilidades para responder a esta questão:
1. Regulamentar – incluir nos códigos de obras, de edificações urbanas, nos editais e termos de referência para contratação de projetos e de obras, dispositivos que obriguem ou induzam a adoção de projetos ecologicamente sustentáveis, a exemplo do que vem sendo feito em alguns países europeus.
2. Criar incentivos econômicos para estimular o uso de tecnologias, materiais, processos e práticas de construção ecológicas e criar penalizações econômicas para práticas não ecológicas, que levam a alto consumo de energia ou a alta emissão de carbono.
3. Influenciar o mercado – o marketing, a publicidade e a propaganda atuam sobre o inconsciente e excitam o desejo de consumo. Eles também podem promover o desejo por saúde ambiental, bem como a redução da demanda por bens cujo processo de produção é destrutivo, degradador, poluidor, emissor de gases de efeito estufa. Divulgar, premiar e valorizar as boas práticas que levam a um ambiente sustentável.
4. Mudar a formação no nível básico – tanto nas escolas como fora delas, explicitar os impactos causados pela atividade humana em cada profissão, de forma que cada profissional esteja ciente de sua responsabilidade pessoal para o bem estar global.
5. Formar pessoas com valores ecológicos – consolidar uma ética ecológica, na qual a noção de bem estar e de interesse pessoal seja expandida, tornando-se culturalmente aceita a idéia de que o bem estar do ambiente e o bem estar coletivo são pré-requisitos para o bem estar individual. Ainda que as pessoas continuem a se mover por motivos individuais e pessoais, eles estão colocados numa escala que se aproxima do interesse publico e coletivo.
6. Mudar a formação nas escolas de arquitetura e de engenharia – ensinar a arquitetura e a engenharia sustentáveis, o ecodesign e o urbanismo ecologicamente responsável, adequados para uma sociedade com baixa emissão de carbono.
7. Desenvolver e aplicar indicadores para avaliar em que medida o ambiente construído atende a critérios de sustentabilidade e de responsabilidade ecológica. Promover a certificação ecológica de edificações e espaços construídos.
Que outras ações podem despertar a consciência ecológica em arquitetos, urbanistas, engenheiros, administradores e demais profissionais que projetam e constroem o ambiente?
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