O Brasil iniciou sua história através da água. Os povos autóctones, que já habitavam estas terras quando chegaram os colonizadores, se agrupavam nos locais onde ela estava presente. Dos rios, lagos e lagoas retiravam sua sobrevivência e se deslocavam por este território continente.

A rede hidroviária do país permite infinitas possibilidades de utilização para o transporte de bens e pessoas. Por meio dela, o país se interiorizou e se consolidou. O que seria a Amazônia sem a existência desse sistema cardiovascular, que possibilita as mais importantes necessidades chegue até os povos distantes no interior da imensa floresta? Também no litoral, as grandes baias e enseadas permitem os deslocamentos entre suas margens.

Hoje a navegação interior no Brasil é basicamente para transporte de mercadorias, com pequenas experiências no deslocamento de pessoas. Exceção se faz a algumas balsas que atravessam rios e lagos, e nas cidades onde baias e enseadas usam esse modal de transporte para ligar comunidades costeiras.

Aqui no sul as águas interiores permitiram aos açorianos fundarem o Porto dos Casais, hoje a capital do Estado. Os rios Jacuí/Taquari, Gravataí, Dos Sinos tiveram deu período áureo, principalmente os dois primeiros onde foram construídas eclusas nos trechos onde não era permitida a navegação.

Na ligação entre Porto Alegre-Guaíba havia o transporte feito por ferryboat e, quando a tônica era o transporte rodoviário, foi construída a famosa Ponte do Guaíba, passando o ônibus a ser a única alternativa de ligação entre as duas cidades e o acesso à Região Sul do Estado.

No ano de 2000, o BNDES contratou o PET/COPPE/UFRJ – Programa de Engenharia de Transportes para desenvolver um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica do Transporte Hidroviário em diversas capitais brasileiras: Belém no Pará, Salvador na Bahia, Rio de Janeiro capital, entre a capital do Estado e Niterói, Santos e Guarujá em São Paulo Florianópolis entre a ilha e o continente em Santa Catarina, Porto Alegre e Guaíba no Rio Grande do Sul. Neste caso o estudo apontou viável a ligação entre as duas cidades com uma derivação no local onde seria construído o shopping center Barra Sul. Um dos objetivos apontados para a viabilidade dos estudos era implementação de parceria com grandes polos atratores de demanda no sentido de viabilizar o empreendimento. Várias tentativas foram feitas pelo Órgão Metropolitano, mas resultaram infrutíferas.

Em 2011 essa ligação se tornou realidade, iniciando a ligação Porto Alegre-Guaíba com uma conexão no bairro Cristal, como propôs o estudo do BNDES, operada com catamarãs e com um serviço segura e de qualidade. Mas ainda esse modal não fazia parte do STELC – Sistema Estadual de Transporte Público Intermunicipal de Passageiros de Longo Curso.

Mas nem tudo estava perdido, finalmente a Assembleia Legislativa do Estado aprovou a Lei nº 348/2015 que altera o STELC de que trata a Lei nº 14.667/2014. Por aquela lei fica instituído que o modal hidroviário passa a ser parte integrante do STELC. A lei define ainda, onde e como esse modal de transporte necessita para ser instalado, terminando com o abandono de nossas vias navegáveis interiores.

Pegando carona na passagem bíblica do Gênesis 3.19, afirmamos que: “pela água viemos e à água voltaremos”.

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