Rogério Severo (Engenheiro especialista em planejamento)
Jornal do Comércio (08/03/2012)

A pauta que domina o noticiário gaúcho nas últimas semanas, referente aos problemas no contrato para o reinício das obras do estádio de futebol Beira-Rio do Internacional, é apenas uma amostra das discussões contratuais que ainda sem sucesso impedem o andamento do projeto há mais de um ano. Diante disso, seria interesse fazer uma análise mais abrangente de outros aspectos, inclusive para que a sociedade pudesse monitorar de forma mais ampla o projeto. Essa análise daria uma ideia mais clara da possibilidade de execução, que não estaria amparada apenas na ótica de garantias da empresa e do contrato. Considerando esses outros aspectos, até este momento, existem prazos suficientes e necessários para que empresas de engenharia com boa capacidade, inclusive as locais, executem todos os trabalhos no estádio em tempo da Copa das Confederações, ou seja, até junho de 2013, se considerado um regime contínuo e não normal de trabalho.

Sobre a ótica das práticas e recomendações de um dos conjuntos de normas seguido pelos profissionais de gerenciamento de projetos, o PMBOK, e considerando a relação escopo/tempo/custo, o que deverá ocorrer daqui para frente será a necessidade de que a empresa executora aplique muito mais recursos (equipamentos e mão de obra) do que os previstos na sua proposta inicial. Consequentemente, o empreendimento custará mais caro, já que o trabalho deverá ser realizado em até três turnos diários. Isto significa que deverá ser empenhado um efetivo de pelo menos 30% a mais para cumprir turnos excedentes em um cronograma de obras que deverá ser acelerado, transformando a obra em uma obra mais rápida e com muito mais atividades simultâneas (o que é conhecido como fast construction ).

No caso do estádio Beira-Rio, por exemplo, outra mudança diante deste novo contexto seria a realização simultânea da montagem da estrutura metálica da cobertura e das obras internas.
Isso obrigaria que mais setores do estádio fossem fechados, diferentemente do que se propunha inicialmente no projeto, quando a obra iria ser feita quadrante a quadrante. Essas práticas, além de otimizarem o tempo da construtora, podem colaborar para que se cumpram questões relativas à segurança dos trabalhadores envolvidos na obra. Outra questão que deveria ser discutida nesse momento inicial é se o estádio ficaria fechado em algum momento. Considerando as condições abordadas, se adotado um planejamento e um estudo de plano de contingência contínuo e diário de forma a manter a data limite sempre como principal meta do projeto, Porto Alegre participará da Copa do Mundo de 2014.