24/01/2013

China perde força como o chão de fábrica do mundo

Yajun Zhang e Tom Orlik, em Pequim, Mitsuru Obe, em Tóquio, e Colum Murphy em Xangai
Valor Econômico – 20/1/2013

A China está perdendo sua vantagem competitiva como um polo manufatureiro de baixo custo, indicam novos dados, com fabricantes de coisas tão diversas como bolsas, camisas e componentes eletrônicos se mudando para regiões mais baratas do Sudeste Asiático.

A mudança, ilustrada pela diminuição do investimento estrangeiro na China, tem prós e contras para esse país crítico para o crescimento mundial. O governo chinês quer ver a produção migrar para bens mais valiosos e os salários subirem. Mas a redução do foco na manufatura põe pressão nos líderes para que garantam a criação de empregos em outros setores e mantenham a segunda maior economia do mundo nos trilhos.

O investimento estrangeiro direto na China diminuiu 3,7% em 2012, para US$ 111,72 bilhões, segundo dados divulgados pelo Ministério do Comércio do país. É a primeira queda anual desde a provocada pela crise financeira em 2009.

Na época, uma queda de 13% no investimento estrangeiro na China refletiu as péssimas condições de negócios nos Estados Unidos e na Europa, e uma aversão mundial que interrompeu os fluxos de capital. Economistas dizem que a queda em 2012 é em parte cíclica, causada pela desaceleração do crescimento da China e pela prolongada crise de dívida da Europa.

Mas ela foi também o resultado de uma tendência de longo prazo de aumento de salários e outros custos que tornaram a China menos atraente, principalmente para a manufatura básica, dizem economistas.
Por outro lado, o investimento estrangeiro direto na Tailândia cresceu perto de 63% em 2012; na Indonésia, ele subiu 27% nos nove primeiros meses do ano passado.

A Coronet SpA, uma fabricante italiana de couro sintético com produção na província de Cantão, no sul da China, planeja uma nova fábrica no Vietnã para tirar proveito dos custos mais baixos e ficar mais perto dos seus clientes nas áreas de calçados e bolsas, muitos dos quais já se mudaram para lá.

"Muitos dos nossos clientes já estão mudando parte dos seus negócios para países do leste asiático com custos de mão de obra menores", disse Jarno Tagliarini, diretor-presidente da Coronet. "Considerando todos os países disponíveis, acreditamos que o Vietnã é o mais desenvolvido."

O capital estrangeiro ajudou a fazer da China uma potência da manufatura de baixo custo e um motor do crescimento mundial. Mas sua população cada vez mais urbana agora tem uma expectativa maior em termos de salários e condições de trabalho e uma objeção mais ostensiva à poluição geralmente associada à manufatura básica – exigências que corroeram a vantagem da China no aspecto de custo.

Os líderes chineses estão agindo para diminuir a dependência que a economia há muito tem da manufatura básica e investimentos pesados, procurando criar uma forte base de consumo no país. Uma análise dos números divulgados pelo Ministério do Comércio sugere uma tentativa nessa direção: enquanto os investimentos estrangeiros diretos se contraíram em 6,2% em 2012, os investimentos no setor de serviço, excluindo o mercado imobiliário, aumentaram 4,8%.

"Sabemos que não podemos continuar dependendo da vantagem competitiva do custo baixo. Precisamos acelerar o crescimento do valor agregado dos nossos produtos", disse Sheng Danyang, porta-voz do Ministério do Comércio, numa entrevista coletiva na quarta-feira.

Shen reconheceu a tendência de mudança dos investimentos empresariais para outros países, mas tentou minimizar a importância disso.

"Notamos que algumas empresas estão migrando, mas isso é normal. Não está correto dizer que houve um grande redirecionamento [dos investimentos estrangeiros] na manufatura para outros países", disse ele, embora tenha acrescentado: "Não se pode dizer que estamos felizes com esse fato. Ainda esperamos atrair investimento estrangeiro."

Os dados de investimento estrangeiro na China têm um certo nível de incerteza. Outro conjunto de dados do banco central chinês que incluei a porção dos lucros que firmas estrangeiras reinvestiram no país nos primeiros nove meses de 2012 mostra crescimento, segundo uma análise de Thilo Hanemann, diretor de pesquisas da Rhodium Group. Mas os dados, que ele disse estarem sujeitos a revisões consideráveis, também indicam crescimento próximo de zero nos últimos dois anos.

Com o grosso dos investimentos na China vindo agora de fontes domésticas, o impacto da queda do investimento estrangeiro sobre o crescimento será limitado. Mas a diminuição da importância da manufatura ressalta o desafio dos líderes chineses de tornar os consumo doméstico e a indústria de alto nível em novas fontes de crescimento.

Para os vizinhos da China, a tendência significa mais oportunidades. Os países do Sudeste Asiático, que recebiam 2% do investimento estrangeiro mundial na esteira da crise financeira da Ásia de 1997, agora representam cerca de 7,6%, perto dos 8,1% da China, segundo cálculos do HSBC.

As empresas asiáticas foram responsáveis por boa parte da queda do investimento na China. O investimento das dez economias asiáticas – Hong Kong, Taiwan, Macau, Japão, Filipinas, Tailândia, Malásia, Cingapura, Indonésia e Coreia do Sul – diminuíram 4,8% em 2012 e responderam por cerca de 82% do total.

Um país que poderia desempenhar um papel decisivo em acelerar a saída de investimentos da China é o Japão. O investimento japonês na China aumentou 16% ante um ano atrás, mas a piora das relações devido a uma disputa por um grupo de ilhas levou as firmas japonesas a procurar outros países. De fato, o investimento japonês no Vietnã, por exemplo, mais do que dobrou em 2012, em parte por causa desse esforço das empresas do Japão em buscar alternativas à China.

Numa pesquisa feita em outubro com empresas japonesas pela Organização do Comércio Exterior do Japão, ligada ao governo japonês, 52% das participantes afirmaram que pretendiam ampliar seus negócios na China nos próximos dois anos, contra 67% um ano antes.
Mas Yoichi Maie, diretor da organização para a China e o norte da Ásia, enfatiza que há limites para as empresas japonesas se diversificarem além da China. "Nenhum outro país, com exceção dos EUA, oferece um mercado tão grande e uma rede de produção tão estabelecida."

De fato, mudar para outros países não significa abandonar a China. Numa pesquisa com cerca de 300 membros da Câmara Americana do Comércio na China, 58% disseram que o país continua entre suas três primeiras prioridades de investimento, ante 47% em 2011. Mas só 20% disseram que a China era sua primeira prioridade, comparado com 31% em 2011.

Outras pesquisas mostram que muitas empresas também estão se mudando das cidades manufatureiras do litoral da China para o interior, onde os custos são menores.

Trinh Nguyen, economista do HSBC, estima que os salários da manufatura chinesa subiram em torno de 20% por ano entre 2005 e 2011, dando às empresas um forte incentivo para procurar por mão de obra intensiva em outros países.

"O volume total de capital fluindo para a China ainda será robusto, mas o crescimento vai diminuir. [O investimento estrangeiro] será mais orientado para o mercado doméstico do para exportações", disse Nguyen.

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