12/11/2015

Engenheiro rebate afirmações de Serra sobre o pré-sal

1) “O pré-sal está parado. A Petrobrás não tem e não terá recursos para explorar”.
Realidade: O pré-sal já está produzindo 1.050.000 barris/dia de óleo equivalente (óleo+gás+lgn), cerca de 40% da produção nacional. O campo de Libra está sendo desenvolvido e iniciará a produção em 2017 através de uma plataforma que fará o teste de longa duração. Em 2020 será instalado o sistema piloto com previsão para 10 poços. Os campos de Tupi, Iara, área das Baleias (ES), Sapinhoá e outros estão produzindo. Os de Búzios, Carcará e outros estão em franco desenvolvimento. Donde se vê quão falaciosa é a afirmação do Senador

2) “a Petrobrás não tem recursos para investir. Está muito endividada, não tendo como obter empréstimo”
Realidade: A Petrobrás tem como obter recursos, pois ela tem o maior e melhor conjunto de reservas a produzir; a dívida da Petrobrás é da ordem de R$ 500 bilhões, ou US$ 125 bilhões. Ela já descobriu 60 bilhões de barris no pré-sal (105 bilhões para um fator de recuperação de 50%). E tem ainda 14 bilhões no pós-sal. Multiplicando por US$ 68 por barril, que é o preço Brent atual, chega-se ao valor de US$ 5 trilhões. Portanto, uma dívida irrisória em relação ao portfólio a ser posto em produção.
Além disso, continua a afirmar que a Petrobras é a petroleira mais endividada do mundo em dólares por barril de petróleo produzido, ou seja, que já foi extraído e portanto não pode garanti-la pois não existe mais. A referencia adequada da dívida deve ser em relação ao potencial de produção no qual ela será investida, e nesse quesito a Petrobras é a mais viável e menos endividada do mundo face ao seu portfólio de reservas nos quais vai investir justamente em aumentar a produção de petróleo e que vai garantir o financiamento.

3) “a lei de concessão ajudou a Petrobrás a deslanchar”
A realidade: Durante os 25 anos anteriores a 1999, a Petrobrás foi obrigada pelo governo a comprar petróleo no exterior pelo valor médio de US$ 25 por barril e revendê-lo no mercado nacional por US$ 14 por barril. Essa perda era contabilizada numa conta chamada conta petróleo, que chegou a US$ 15 bilhões. Apenas uma parte foi ressarcida à Petrobrás com a venda de 36% das ações da companhia, em poder do governo, na bolsa de Nova Iorque pelo valor irrisório de US$ 5 bilhões. Com esse valor, o governo quitou parte da conta petróleo.
Em 1999, FHC, iniciou um processo de desnacionalização da companhia e, para premiar os futuros compradores, pôs fim àquela obrigação de perder na importação. Assim, a Petrobrás além de deixar de perder, passou a ganhar muito através do seu petróleo produzido, pois o seu custo de produção era de US$ 12 por barril, e a Sociedade Brasileira passou a pagar no combustível o valor internacional de US$ 25/barril, iniciando um período de lucros exorbitantes, dos quais 36% era transferido aos acionistas do exterior. Essa foi a causa real do deslanche da Petrobrás, e não a lei da concessão, inclusive tendo o Governo FHC cerceado a aplicação dessa rentabilidade em pesquisa e exploração de petróleo.
A desnacionalização começou com a entrega da REFAP para a Repsol, mas foi interrompida por uma ação judicial. Nisso tudo, a má intenção acabou resultando em beneficio, pois essa capitalização permitiu que a competência do pessoal, quando incrementado o investimento em pesquisa e exploração de petróleo, realizasse as grandes descobertas petróleo.

4) “A produção deslanchou de 1997 a 2002, depois estacionou, caiu”
A realidade: A produção aumentou no período citado devido às descobertas ocorridas na era do monopólio, pois a colocação em produção de um campo descoberto leva de 7 a 10 anos, mas foi impulsionada pelos grandes lucros que a Petrobrás passou a obter com o a alteração do critério de valoração do petróleo nacional para valores internacionais, através de aumento real no preço dos derivados, sob a alegação de propiciar competitividade no mercado nacional. Depois diminuiu devido à queda de produção decorrente da depleção de poços antigos, com mais de 20 anos de produção, e que superou todas as previsões. Hoje o pré-sal representa 40% da produção, compensando essas perdas, e garantindo a autossuficiência atual e futura do País.

5) “O meu projeto não mexe na partilha e no conteúdo local”
A realidade: Claro que mexe, pois abre o Pré-Sal para operador estrangeiro e este compra tudo em seu país de origem, em detrimento dos fornecedores e trabalhadores brasileiros. O ponto principal da partilha é a operação pela companhia, além de impedir os dois principais focos de corrupção da área internacional de petróleo: superdimensionamento dos custos de produção e medição fraudulenta. Logo, ele mexe para muito pior na lei de partilha. A AEPET lista 14 pontos negativos na mudança.

6) "O projeto apenas desobriga a Petrobrás. Se for descoberto novo Kuwait no pré-sal, basta a Petrobrás querer que ela leva".
A realidade: a Petrobrás descobriu o Campo de Libra, o maior do mundo atual. A presidente Graça da Petrobras declarou em Audiência Publica no Senado que a Companhia queria muito o campo e não levou. O governo, sob pressão do lobby internacional, incluindo o vice-presidente americano Joe Biden, fez um leilão fajuto e entregou 60% do campo para o cartel do petróleo.
Outro exemplo dessa falácia foi o 8º. leilão de área petrolífera, que foi anulado na Justiça, pois as exigências da ANP impediam a Petrobras de concorrer em mais de um campo, sob a alegação de facilitar a entrada do capital estrangeiro no país.

7) "essa história de produzir a US$ 9 por barril não é verdadeira".
A realidade: A Diretora de Produção da Petrobras divulgou esses dados no exterior e certamente sabe do que está falando. Os assessores do Senado, que o senador decantou como ultracompetentes, e que desmentem a diretora Solange, devem ter confundido custo de extração (US$ 9 por barril), com custo de produção, que é maior porque engloba todos os custos: pesquisa, inclusive de furos não descobridores, exploração, financeiros, depreciação, logística, transporte e produção.
Face á evidente agressão à Soberania Nacional e desnacionalização do parque produtivo brasileiro em que o Senador Serra teve papel preponderante, não vamos nos manifestar sobre sua tentativa de resgatar sua imagem de líder estudantil nacionalista.

* Fernando Siqueira é engenheiro aposentado da Petobras

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