17/08/2018

CICLO DE PALESTRAS SENGE: Economista Marilane Teixeira fala sobre os sindicatos frente às inovações e a Reforma Trabalhista

O protagonismo sindical frente às mudanças tecnológicas e à Reforma Trabalhista foi o tema da palestra realizada nesta quinta-feira (16), no SENGE, pela economista Marilane Teixeira.

A iniciativa integra o Ciclo de Palestras SENGE, realizado pelo Conselho Técnico Consultivo da entidade, que, no estudo da uberização do mercado do trabalho e da indústria 4.0, criou uma comissão para aprofundar o assunto formada pelos engenheiros Luiz Antônio Grassi, Arnaldo Dutra, Gerson Cavassola e Vinicius Galeazzi.

O Ciclo de Palestras SENGE já recebeu o economista Enéas de Souza, que tratou da financeirização da economia e do mercado do trabalho no contexto do geopolítico mundial; o professor do Instituto de Informática, Sergio Bampi, que falou sobre a internet das coisas, indústria 4.0, tecnologia da informação e suas implicações no mercado do trabalho; o economista David Deccache, que palestrou sobre a crise estrutural do capital na economia brasileira e o fenômeno da uberização; e a socióloga Ludmila Abílio, que abordou o
o trabalhador intermitente, o trabalhador autônomo e a uberização do trabalho.

Doutora em desenvolvimento econômico pela UNICAMP e pesquisadora na área de relações de trabalho, gênero e sindicalismo, Marilane trouxe questionamentos fundamentados nas suas vivências junto ao movimento sindical e no conhecimento sobre os impactos que as mudanças, sobretudo da Reforma Trabalhista, trazem à classe trabalhadora.

A economista iniciou sua manifestação trazendo um posicionamento crítico sobre os novos paradigmas tecnológicos que chegam ao Brasil. Ela alerta, no entanto, que não há ainda um diagnóstico consolidado no país sobre os efeitos da chamada indústria 4.0 sobre a produtividade, os processos de trabalho, produção e nível de emprego. “Mais do que discutir as mudanças a partir dos paradigmas tecnológicos, precisamos discutir a serviço de quem e para que vêm essas novas tecnologias. Se elas são para fortalecer o mercado privado e a mercantilização, ou devem estar a serviço dos bens públicos da sociedade e da sustentabilidade da vida. Esse é um debate importante”, destacou.

Marilene apresentou estimativas que sugerem que a produtividade deve aumentar entre 5 a 8% na próxima década no Brasil, gerando cerca de 400 mil postos de trabalho. Enquanto isso, em torno de 300 empresas nos EUA, Japão e Alemanha calculam incremento  em torno de 26% na produtividade com a adoção de novos processos de produção. Outra pesquisa aponta o impacto de 70% no nível de emprego dos segmentos ligados à internet.

Surge também um novo debate sobre qual deve ser o novo perfil profissional necessário para atender a este cenário. “O perfil dessa força de trabalho não precisa ter passado, ou seja, o que ela aprendeu é descartável. Você tem que constituir conhecimento o tempo inteiro. Então toda a nossa visão de educação integral e mais humanística está sendo colocada em cheque. Você precisa estar preparado e  ter flexibilidade suficiente para encarar as mudanças”, explica Marilane.

Segundo a economista, essa transição está sendo liderada por grandes empresas transnacionais, destacadamente aquelas especializadas em automação industrial nos Estados Unidos, Alemanha, Japão e China. Os países da América Latina têm muito pouca capacidade de receber essa tecnologia em função do processo de aprofundamento da divisão internacional do trabalho, que se acentuou nessa última década de forma que cada vez mais as empresas concentram capital nas principais economias, enquanto os países latino-americanos vêm reduzindo significativamente os níveis de investimento em novas tecnologias. Para que o Brasil se coloque à altura dessas inovações, segundo Marilene, será necessária uma verdadeira revolução.

Ainda que os efeitos desse movimento sobre o mercado de trabalho também não tenham uma estimativa consolidada, alguns especialistas apontam que quase 50% dos empregos nos Estados Unidos estariam em risco nas próximas duas décadas. No caso da China e da Índia, a estimativa sobe para dois terços da força de trabalho com empregos em risco. “Quando olhamos para a América Latina, as estimativas falam que, entre 2013 e 2020, seriam necessários em torno de 365 milhões em investimentos. Ou seja, ampliar para mais 10% além do que já se investe na indústria. Porém, já estamos em 2018 e essas metas não estão nem próximas de serem alcançadas. Isso demonstra, de certa forma,  qual a tendência e o lugar da AL nesse processo de inserção”, explica a economista. Ela ainda traz dados do Fórum Econômico Mundial, que calcula a destruição de mais de 3,38 milhões de postos de trabalho na América Latina até 2030 com a utilização das novas tecnologias.

Marilane situou o caso do Brasil, que desde os anos 90 vive um processo de reestruturação bastante profundo, com a redução do peso da indústria nacional e o crescimento da participação de comércio e serviços, que representam quase 70% do PIB. Soma-se a isso a desestruturação de elos importantes da cadeia produtiva, atraso tecnológico e a inserção de novas formas de trabalho. “A crise de representatividade já vem desde os anos 90, mas se intensificou no último período. Teve um processo que cresceu muito naquela década, que foi a terceirização, seguida da ‘pejotização’, legitimada pela Lei da Terceirização e pela Reforma Trabalhista, reconfigurando o perfil do trabalho. Neste contexto cresce o setor de comércio e serviços em detrimento da indústria, e é onde se contrata um perfil profissional menos qualificado, com menos exigências e mais facilidade de montar arranjos mais precários”, define.

A economista também salientou a fragmentação da estrutura produtiva brasileira, citando o exemplo da indústria do plástico onde figuram 11 mil empresas, enquanto no Japão são pouco mais de duas mil. “Se questiona muito a fragmentação do movimento sindical, mas não se pergunta porque tem tantas empresas no mesmo setor. No setor de vestuário são mais de 50 mil empresas, com um, dois ou três funcionários, algumas operando inclusive na informalidade. Então, para pensar a estrutura sindical brasileira e o seu conjunto de particularidades, tem que ser vista o que é a estrutura produtiva brasileira”, explica Marilene, ressaltando a existência de um setor de empresariado bastante competitivo e pouco sensível ao debate sobre a adoção e compartilhamento de inovação tecnológica.

Nesse período se alterou também a relação de identidade do trabalhador como sujeitos sociais e políticos. Os novos paradigmas da produção flexível operam uma grande mudança do ponto de vista ideológico e de valores, estimulando a sociedade voltada ao consumo. As novas formas de ocupação, que se dão no âmbito individual, também rompem com as relações de pertencimento, solidariedade, participação e interesses, e todo esse cenário impacta o movimento sindical, que passa a sentir os efeitos da dificuldade em mobilizar, organizar e manter sua legitimidade. “A primeira questão que se coloca para o sindicalismo é que não dá para fazer o caminho de volta. É preciso usar de criatividade, ampliar o espectro de representação e de acesso ao trabalhador e trabalhadora. Aquele modelo anterior se esgotou”, alertou Marilene.

“Estamos em um contexto complexo e, sem dúvida nenhuma, desfavorável. Há retrocesso e um afastamento brutal da representação sindical e de legitimidade no local de trabalho. Algumas entidades também têm uma posição vacilante em relação ao tema (Reforma Trabalhista) e ela não é de agora”, criticou Marilane. Ela cita, entre outras questões, o descolamento de algumas entidades da sua base de representação, o que faz com que os sindicatos não percebam ativamente as mudanças que acontecem.

Nesse âmbito, a economista aponta algumas saídas para o enfrentamento dos obstáculos impostos pelas reformas e pelas novas configurações do trabalho. Entre elas, fusões das entidades por ramo de atividade para enfrentar a redução de receitas; criação de espaços comuns em áreas de assessoria; o fortalecimento das federações na prestação de serviços para pequenos sindicatos locais; maior interlocução com movimentos sociais; ampliar a representação dos terceirizados; negociações conjuntas com sindicatos do ramo de atividade dominante; ampliar serviços para sócios e não sócios; ampliar o espaço de homologação para mediação e solução de conflitos; entre outros.

“O sindicato é imprescindível em qualquer contexto, senão vira selvageria. Eles não vão acabar, mas precisam sair da área de conforto das últimas décadas e recuperar sua legitimidade junto a sociedade”, afirmou.

Ao concluir sua palestra, Marilane entregou três publicações aos membros do Conselho Técnico Consultivo do SENGE, abordando a precarização e terceirização no mercado de trabalho, contribuições críticas sobre a Reforma Trabalhista e um balanço dos impactos da austeridade fiscal e da Emenda Constitucional 95 nas políticas de 15 setores.

 

Assista!

FIQUE ATENTO

O Ciclo de Palestras SENGE tem continuidade no dia 4 de setembro, às 18h, com a participação do presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino da Silva Pereira Filho. A participação é gratuita.

Participe! 


04 DE SETEMBRO (TERÇA-FEIRA), 18H

PAPEL DA ENGENHARIA BRASILEIRA NA SAIDA DA CRISE

PEDRO CELESTINO DA SILVA PEREIRA FILHO – Engenheiro civil especializado em Transportes, formado pela PUC-RIO em 1967. Preside a Internacional de Consultoria e Planejamento S.A. (ICOPLAN), empresa de engenharia consultiva com serviços realizados em quase todos os Estados brasileiros, desde 1975. É membro vitalício do Conselho Diretor do Clube de Engenharia. Representou o Clube no CREA-RJ por nove anos e na Federação Brasileira de Associações de Engenheiros (FEBRAE) por seis anos. Fez parte da direção da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE) por três anos. Foi membro do Conselho Diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro por dois anos. É o atual presidente do Clube de Engenharia.


26 DE SETEMBRO (QUARTA-FEIRA), 18H

A REFORMA TRABALHISTA: PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E COMPROMETIMENTO DAS FONTES DE FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

JOSÉ DARI KREIN – Docente da Universidade Estadual de Campinas, possui doutorado em Economia Social e do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas (2007), mestrado em Economia Social e do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1982). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Emprego, Relações de Trabalho, Sindicalismo e Negociação Coletiva. Professor do Instituto de Economia da Unicamp, Pesquisador e diretor do CESIT (Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho). Membro da diretoria da ALAST (tesoureiro) no mandato 2010-2013. Presidente da ABET (2007-2009). Membro da comissão de apoio à ABET no mandato atual, membro da GLU (Global Labor University).

 

SAIBA MAIS SOBRE O CICLO DE PALESTRAS SENGE 

 

 

 

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