12/09/2018

Clélio Campolina Diniz fala sobre mudanças tecnológicas globais no 12º Painéis da Engenharia

Os processos de inovação, vistos desde o século 18, quando Adam Smith introduz o conceito de divisão do trabalho, levando a sociedade do artesanato à era da manufatura, mostram-se como fatores fundamentais para a indústria. Este breve resgate dos fundamentos históricos e teóricos da inovação embasou a abertura da apresentação feita por Dr. Clélio Campolina Diniz, ex-reitor da UFMG, e ex-Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. A palestra foi a primeira na programação do 12º Painéis da Engenharia iniciado nessa quarta-feira (12), no Auditório do SENGE, e que nesta edição aborda os desafios e oportunidades do setor elétrico.

Para introduzir os participantes no tema no Painel 1 (Desenvolvimento Tecnológico no Setor Elétrico), Diniz falou sobre “Mudanças tecnológicas globais e suas implicações”. Com uma breve digressão sobre os fenômenos históricos que nos levaram à atual era dominada pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), Diniz destaca a introdução do conceito de inovação do economista Joseph Schumpeter, considerado pai da inovação, e os ciclos econômicos longos propostos pelo teórico Nikolai Kondratiev.

O período que fundamenta também se destacou pelo tardio reconhecimento da relação da ciência com a tecnologia, e o papel destas nos processos de inovação e competição nas organizações. Com isso, a primeira grande onda de inovação moderna vai se dar no Reino Unido, ao final do século 18, pela indústria têxtil; a segunda, somente na segunda metade do século 19, quando o setor de ferrovia/siderurgia/carvão se tornou expoente na Europa e EUA; na terceira onda, a eletricidade, química, motor de combustão interna, novamente em solo europeu (Alemanha) e nos EUA ganharam corpo nos anos 1896-1930; na quarta, a expansão dos setores automotivo, petrolífero e petroquímico, que seguiu dos anos 1930 aos 1990 na Europa, Japão e EUA, foram o berço para a criação dos G7 e agora G20; e, a quinta onda, a partir dos anos 1990, com a expansão das Tecnologias da Informação e Comunicação no EUA e no mundo.

Para Diniz, esta quinta onda transformou radicalmente os rumos da indústria em todo o mundo, mudando a lógica da expansão capitalista e ditando os rumos da sexta onda, no século 21, marcada pela introdução de novas formas de pensar a produção, agora mais do que nunca baseadas em tecnologia. “Porque antes havia um setor que liderava o processo inovativo, mas agora em todos os processos necessitamos de TICs para criar a inovação. Com ela surgem campos novos como o da bioeconomia, da biotecnologia – o futuro energético, em breve, estará na dependência das bactérias. Então este é o momento que estamos vivendo, da internet das coisas, a engenharia de precisão, a automação generalizada, a robotização, a inteligência artificial – a discussão sobre o pós-humano. A tecnologia tende a substituir as pessoas, por isso gera medo, e por isso a necessidade de pensar o uso desenfreado da tecnologia sem discutir antes as questões éticas e morais envolvidas”, afirmou Diniz.

Para o pesquisador, uma das grandes questões dessa nova onda de expansão são os mega paradigmas energético-ambiental. “A questão ambiental não era motivo de preocupação econômica até pouco tempo atrás. Hoje, sim, isso transformou em uma grande preocupação mundial. Porém o mundo ainda não identificou uma forma de um tratamento com base científica e que tenha base operacional. Não podemos esquecer que o processo de produção é em si um processo de apropriação e transformação da natureza, não podemos esquecer que nós somos parte da natureza, então como lidar com a questão ambiental é ainda um desafio”, afirmou.

Diniz também destacou o caráter multidisciplinar dos processos atuais. “Agora temos múltiplas trajetórias, por isso hoje as áreas precisam conversar. Mas é importante não confundir multidisciplinaridade com vulgarização da ciência. Os processos são multidisciplinares, porém as pessoas não – ninguém vai ser um bom engenheiro, médico e advogado ao mesmo tempo”, destacou, salientando a necessidade de se pensar na convergência das áreas, um fenômeno de contexto mundial.

O palestrante seguiu apresentando dados e levantamentos da produção científica entre países, e os investimentos nas áreas de pesquisa e desenvolvimento. “O Brasil com 2%, ocupa uma posição quase histórica, embora os gastos em P&Ddo nosso país venham caindo substancialmente nos últimos anos”, frisou, em relação aos cortes de orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Diniz alertou sobre o papel de destaque que a China já adquiriu, em pouco tempo, na área de inovação. Com a segunda posição no ranking de países que investem em P&D, a produção de artigos científicos colocou o país na liderança global. Segundo Diniz, não poderia ser diferente, haja vista a modernidade vista em universidades como a de Xangai. No entanto, o que impressiona, segundo ele, é a velocidade com que a China ganhou destaque nessa área, situação que foi acompanhada por outras mudanças estratégias no país, especialmente em relação à participação nas exportações de manufatura: “As pessoas estão acostumadas com a China exportando manufatura sem base tecnológica. Mas a China hoje condiciona a entrada de empresas à transferência de tecnologia. “Além da China, é preciso prestar atenção também à ìndia. Lá, apesar das diferenças e restrições culturais, tem ciência. A ìndia, inclusive, tem vários prêmios Nobel – e nós, no Brasil, não temos nenhum.”

A posição relativa do Brasil no contexto da inovação reflete um atraso histórico. A primeira universidade, foi criada somente em 1921 e apenas porque tinha o intuito de entregar um título honorífico ao rei da Bélgica. Sempre houve uma debilidade da burguesia nacional, e uma industrialização dependente de estrangeiros. Já na era Vargas, a introdução de BNDE, CNPQ e a criação da base do sistema energético moderno colocou o Brasil em outra rota. Daí vieram iniciativas que Diniz destaca como sendo os cases de sucesso do Brasil: Embrapa, Embraer, Petrobras. “O sistema energético brasileiro foi um grande caso de sucesso e de eficiência. Não sou especialista, mas eu advogo que alguns setores estratégicos, como este, têm que ser preservados”.

“A participação da indústria de transformação no Pib e no emprego no Brasil, que nos anos 1980 representava 23%, em 2015 ficou em 11%. E hoje já deve estar menos de 10%. Na China deve estar em mais de 20. Ao mesmo tempo, temos as contradições entre a política cientifica e tecnológica e a política macroeconômica. O Brasil formou 5 mil doutores em 2000. Agora, em um esforço cientifico, já devemos estar em 25 mil doutores. O que vamos fazer com eles? É preocupante, pois não temos investido em pesquisa, o setor privado também não demanda – aliás, as empresas muitas vezes preferem não contratar doutores”, destacou.

Diniz ressaltou a necessidade de focar em planejamento de longo prazo, e de investir em uma política industrial que contemple uma adequação das políticas cambial, monetária, tributária, e de comércio exterior. “Sem um projeto de nação, com planejamento de médio e longo prazo, será difícil. Este é um dos requisitos, assim como viabilizar uma nova política econômica para o desenvolvimento pensando em todos os seus componentes: educação, ciência, tecnologia e inovação”, salientou.

Acesse o arquivo da palestra

 

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