Por Julio Gomes de Almeida (ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp)
Fonte: Brasil Econômico
Uma pesquisa realizada pelo Iedi sob a coordenação do prof. Carlos Américo Pacheco junto a 40 grandes empresas (30 nacionais e dez internacionais) sugere que gradativamente vai ficando para trás a concepção de que a inovação não é da "cultura" empresarial brasileira.
Deste baixo engajamento resultaria um diminuto investimento das empresas em inovação e, consequentemente, uma fraca posição brasileira em termos internacionais, fator para uma produtividade deficiente e um distanciamento da competitividade brasileira com relação a outros países.
Que a nossa empresa deixa a desejar como produtora de inovações e que isso enfraquece sua capacidade de concorrência em mercados externo e interno, não há dúvida.
Mas, alguma coisa parece estar mudando na dimensão da inovação para as empresas. Segundo a pesquisa, para 58% delas a inovação tecnológica na atualidade já é decisiva para a sua estratégia de mercado e para outras 42% aparece como relevante.
Nenhuma empresa considera a tecnologia como pouco relevante ou irrelevante. Ainda mais indicativo de mudança é a percepção das empresas em um horizonte de dez anos à frente: 80% tomam a tecnologia como decisiva para sua estratégia de mercado e 20% consideram relevante.
Devido a isso, as empresas pretendem ampliar em muito sua liderança tecnológica em alguma área de sua atuação. Se atualmente 43% das empresas já se declaram líderes em algum setor em que atuam, em dez anos projetam um índice muito maior: 73%.
Tudo isso é muito positivo e abre boas perspectivas em torno de um tema tão central para o desenvolvimento brasileiro.
Mas o levantamento também mostra que ainda persistem fatores que não contribuem de forma positiva para a inovação.
As empresas identificam motivações para inovar principalmente no atendimento de necessidades dos consumidores, na busca de ampliação de receitas e no aumento da produtividade.
A importância desses itens é alta para 70% a 75% das empresas. Porém, é baixa a relevância atribuída à exportação e à internacionalização como motores da inovação.
Somente 20% das empresas consideram alta a importância do objetivo de ampliar oportunidades de exportação como indutor da inovação e apenas 33% vêem na internacionalização da empresa um fator destacado para o investimento inovador.
Mais do que a falta de cultura, a baixa inserção externa da empresa brasileira responde pelo seu tradicional atraso.
Outros países que hoje desfrutam de maior desenvolvimento tecnológico e mais rápido aumento de produtividade incentivaram intensamente a exportação e a internacionalização de suas empresas como indutores do progresso técnico.
Isto porque a concorrência em mercados do exterior, muito mais do que a defesa do mercado interno, tem o poder de renovar e perpetuar a necessidade das empresas de atualizar produtos, elevar a produtividade e reduzir custos, o que as tornam prisioneiras da tecnologia.
O Brasil já há muito tempo não prioriza o mercado externo em seus programas de desenvolvimento e, com isso, tornou inevitável o relativo atraso de suas empresas em termos de inovação.
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