Fotos: João Alves
“As mudanças recentes no clima são generalizadas, rápidas, estão intensificando e são sem precedentes em milhares de anos”, afirmou o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Em que pese a disseminação de debates desamparados de fundamentação científica e as fake news a respeito deste tema, as mudanças climáticas e suas consequências para o meio ambiente e a sociedade já são uma realidade apontada pela comunidade científica e evidenciada no cotidiano da sociedade, especialmente nas camadas mais vulneráveis da população. Diante deste urgente e fundamental alerta, profissionais de diversas formações, acadêmicos, universitários, estudantes do Ensino Médio de escolas da Capital, representantes de entidades, do governo e da sociedade lotaram o Teatro da Unisinos, em Porto Alegre, nesta terça-feira (20) para o seminário realizado pelo Sindicato dos Engenheiros. O evento tratou sobre o tema “Mudanças Climáticas e suas Consequências”, com o patrocínio do CREA-RS, da Mútua-RS e apoio da Escola Politécnica da Unisinos.
O presidente do SENGE-RS, Cezar Henrique Ferreira, agradeceu a presença de todos neste seminário, que celebrou os 81 anos do Sindicato, e destacou que ao longo da sua história a entidade se adaptou às mudanças da sociedade e do mercado de trabalho, além da ação sindical, da qualificação profissional, da prestação de serviços e benefícios para a família dos engenheiros e engenheiras. “Somos uma entidade propositiva e hoje, mais uma vez, reafirmamos nosso compromisso com os profissionais representados, com a sociedade e, principalmente, com as novas gerações”, disse o presidente, salientando que esta pauta desafia e exige posicionamento e providências de todas as organizações, de todos os governantes, legisladores e, claro, dos engenheiros e engenheiras de quem, certamente, virão as soluções.
Cezar destacou ainda os fenômenos causados pelas mudanças climáticas que impactaram diversas regiões nos últimos dias, trazendo consequências severas especialmente para as populações menos favorecidas. “É o que todos observamos com os efeitos causados pelo ciclone do final da semana passada, especialmente nas áreas de risco, de ocupações irregulares, com populações ribeirinhas, ou seja, as áreas mais pobres. Afeta com certeza toda a biodiversidade e também a agricultura, com reflexo na produtividade, na produção de energia, na inflação, que de novo afeta os mais pobres. O certo é que devemos agir com mais contundência do que fizemos até aqui”, disse o presidente do SENGE, que reafirmou a importância do conhecimento, da ciência e dos profissionais para a proposição de soluções efetivas, deixando para os políticos a regulamentação responsável e alinhada aos organismos nacionais e internacionais, com a necessária valorização dos órgãos de fiscalização e dos seus quadros técnicos, capacidade de diálogo, espírito coletivo e foco no interesse público.
Participaram também da abertura do seminário o vice-presidente do CREA-RS João Luiz Collares, o presidente da Mútua-RS Pablo de Souto Palma, o secretário municipal do Meio Ambiente, do Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre, Germano Breem, e o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros, Murilo Pinheiro.
A moderação dos painéis foi realizada pelo professor da Unisinos, Gerson Fauth.
O primeiro painel do seminário tratou sobre os impactos das mudanças climáticas na Antártica, tendo início com a participação do cientista e pioneiro da Glaciologia no Brasil, Dr. Jefferson Cardia Simões. “O sistema climático global é indivisível. Não existe parte do planeta mais importante ou menos importante”, destacou o professor Doutor, salientando que as regiões polares são extremamente sensíveis, principalmente em suas periferias, e que, portanto, as variações que ocorrem ao longo do tempo nesses locais servem de alerta, adiantando o que está por vir, principalmente quando se fala em mudanças da circulação oceânica e atmosférica global. “Para quem é geólogo ou engenheiro de Minas, esses podem ser os canários que vão nos alertar sobre os perigos adiante e onde os sinais de mudanças do clima são ampliados”, afirmou Simões, que já participou de 28 expedições científicas às duas regiões polares e criou o Centro Polar e Climático da UFRGS, a instituição que lidera no Brasil a pesquisa sobre a neve e o gelo.
O professor glaciologista apresentou dados obtidos em suas pesquisas e expedições às regiões polares, e afirmou que vivemos a década mais quente da história ocasionando uma série de modificações bruscas no norte da Antártica, tanto na retração das geleiras, quanto na migração de organismos, e ainda um “total caos climático” no Ártico. Esse cenário contribui para o aumento do nível do mar em cerca de 15mm por década, o que impacta diretamente determinadas camadas da população, entre outras consequências para a saúde pública acarretadas pelas mudanças climáticas, os desastres e deslizamentos de terra em enxurradas resultantes do aumento da precipitação média anual desde a década de 60, com impactos ainda na agropecuária e na economia em geral.
Simões concluiu sua apresentação apontando o atraso do Rio Grande do Sul em ações estratégicas de prevenção. “Todos os cenários apontam que essas mudanças são irreversíveis. Agora precisamos falar em mitigação e adaptação.”
Dando sequência ao tema da Antártica, o seminário contou também com a participação via videoconferência da bióloga e geógrafa Dra. Joseline Manfroi, coordenadora científica da Associação de Pesquisadores Polares no Brasil e pioneira nos estudos sobre paleoincêndios da Antártica.
A pesquisadora trouxe dados do seu pós-doutorado, desenvolvido no ano passado junto ao Instituto Antártico do Chile, demonstrando o panorama ambiental que permite entender como a biodiversidade na Antártica se adaptou ao longo de milhões de anos para viver em condições gélidas e como se relaciona com os ambientes atuais.
O segundo painel contou com a participação do Doutor em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilvan Sampaio, que tem diversos trabalhos publicados na área de meteorologia e climatologia, atuando também como revisor de revistas científicas nacionais e internacionais. É autor de livros sobre mudanças climáticas e sobre os fenômenos El Niño e La Niña.
A respeito dos impactos das mudanças climáticas, Sampaio reiterou os alertas feitos pelo Dr. Jefferson Simões, bem como a necessidade de que sejam revisadas as projeções com base nos atuais padrões de consumo, pressão dos recursos naturais e estilo de vida da população. “Os dados mostram de forma clara que algo precisa ser feito. Não podemos mais trabalhar com as médias da década de 60. Atualmente a variabilidade é muito grande e precisamos de planos para conviver com os eventos extremos”, afirmou o especialista, que ainda apresentou as projeções do fenômeno El Niño para o período 2023-2024 na Região Sul, com aumento moderado do volume de chuvas e de temperatura especialmente no último trimestre deste ano, e a probabilidade de mais eventos extremos no Rio Grande do Sul.
Por fim, o diretor de Programas do Greenpeace Brasil, Leandro Ramos, destacou as dimensões diversas da crise climática, além dos eventos extremos, chegando à necessidade de criação de leis de migrações para populações impactadas, como implementado na Colômbia. Por fim, apontou a importância de um amplo debate a respeito de três conceitos: mitigação, adaptação e Perdas & Danos. “A gente precisa reconhecer que o planeta já está esquentando e vai continuar esquentando, e a gente vai ter que se adaptar para conseguir responder essa nova realidade que está posta. Então quando a gente fala de medida de adaptação, é a necessidade do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais terem planos de adaptação para conseguir responder a essa nova realidade de forma evitar catástrofes, como as que temos visto com tanta frequência nesses últimos tempos. E Perdas e Danos se refere a discussão em torno da necessidade de países que contribuem mais para as mudanças climáticas e são menos impactados por elas, apoiarem os países mais vulneráveis”, disse Ramos.
O diretor do Greenpeace Brasil também abordou o impacto social das mudanças climáticas. “Um estudo realizado pelo Instituto Polis concluiu que famílias negras e pobres estão mais sujeitas a tragédias ambientais e aí isso leva a gente para dois conceitos que eu acho fundamentais a gente trazer aqui, que são racismo ambiental e justiça climática. Tem grupos de pessoas que são as mais impactadas pelas mudanças climáticas”. Ramos concluiu apresentando as demandas do Greenpeace nesta temática e salientando a necessidade de uma mobilização forte em torno desta pauta.
O seminário que lotou o Teatro da Unisinos nesta terça-feira (20) celebrou os 81 anos do SENGE-RS com ampla atenção do público. Além de profissionais de diversas formações, o tema chamou a atenção de estudantes do Ensino Médio de escolas da Capital e de universitários de diversas partes do Estado. Destaque para as turmas dos cursos de Engenharia da Escola Politécnica da Unisinos, da UERGS de Santana do Livramento e da Unipampa de Caçapava do Sul.
Durante o evento foram sorteados uma série de brindes ao público presente, como mochilas e carregadores Power Bank. Também foi sorteado um notebook Dell, que teve como ganhador o estudante da UERGS, Eduardo Vargas Camargo da Rosa.
Foram recebidas doações de alimentos e fraldas geriátricas, que serão destinadas a instituições parceiras do SENGE.
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