19/06/2012

Os planos da Petrobrás

Mesmo com metas mais realistas para a produção de petróleo nos próximos anos, o Plano de Negócios 2012-2016 que acaba de ser aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobrás prevê investimentos de US$ 236,5 bilhões para o período, valor 5,25% maior do que o total aprovado para o período 2011-2015.

Desse modo, a empresa parece ter atendido, ainda que parcialmente, aos apelos cada vez mais insistentes do governo a todo o setor empresarial para que eleve os investimentos, para evitar que a crise mundial afete ainda mais o desempenho da economia brasileira.

O novo plano reforça a ênfase, já nítida nas programações anteriores, nas atividades de exploração e produção, das quais se destacam os investimentos no pré-sal. É preocupante, no entanto, que, apesar da previsão do aumento nos investimentos totais, numa área essencial para a geração de recursos necessários à expansão contínua das atividades da empresa, a de Abastecimento e Refino, os investimentos sejam menores do que os incluídos no plano quinquenal aprovado no ano passado.

A redução não é apenas porcentual (os investimentos em refino e abastecimento correspondiam a 31% no plano de negócios aprovado em 2011 e, no atual, respondem por 27,7%). Haverá também corte em valores: para o quinquênio 2011-2015, a previsão era de investimentos de US$ 70,6 bilhões; no plano para o período 2012-2016, o valor caiu para US$ 65,5 bilhões, com redução de US$ 5,1 bilhões.

Ao contrário da redução das metas de produção de óleo e gás para os próximos anos, esta não pode ser atribuída a maior realismo da administração da Petrobrás. Embora membros de sua diretoria tenham evitado tratar abertamente do problema, a empresa vem enfrentando dificuldades financeiras em razão de alguma defasagem dos preços dos combustíveis e da valorização do dólar, visto que a empresa importa parte do combustível que vende no mercado doméstico. Compra o produto a preços do mercado mundial, paga em dólares, agora mais caros, mas vende em reais, a preço fixado pelo governo. Isso ajuda no combate à inflação, mas impõe custos à Petrobrás.

Maior eficiência operacional – agora incluída entre as metas do que sua direção chama de "programas estruturantes" necessários à execução do plano para os próximos cinco anos – reduziria a necessidade de reajuste dos preços ao consumidor. Mas o melhor caminho para evitar novas dificuldades financeiras é o aumento da capacidade de refino da empresa. A redução de investimentos nessa área tende a manter a dependência da Petrobrás a fornecedores externos e às oscilações do mercado internacional.

A exploração e a produção, que vinham sendo prioridade da Petrobrás desde a gestão anterior, dirigida por José Sérgio Gabrielli, tornaram-se ainda mais importantes na gestão de Maria das Graças Foster. A área foi contemplada com 57% dos investimentos quinquenais aprovados no ano passado e, com o novo plano para 2012-2016, passará a receber 60% do total, o que equivale a US$ 141,8 bilhões. Desse valor, 51% serão investidos no pré-sal.

A despeito do aumento dos investimentos em exploração e produção, em termos porcentuais e em valores, as metas de produção para os próximos anos são mais modestas do que as aprovadas no ano passado. São conhecidas as dificuldades no fornecimento das plataformas, que têm gerado atrasos na entrega e revisão de preços. Além disso, campos considerados maduros na Bacia de Campos produzem menos. Tudo isso, além da dificuldade previsível na gestão de um programa de investimentos como o da Petrobrás, o maior do mundo no setor, pode ter contribuído para instilar realismo na diretoria da estatal.

A Petrobrás não conseguiu alcançar a produção de 2,1 milhões de barris diários de petróleo no ano passado (a média ficou em 2,02 milhões) e, para este ano e o próximo, mantém a mesma meta de 2011. Em 2016, ela espera produzir 3,3 milhões de barris de óleo equivalente (boe) por dia, um volume 17% menor do que a produção de 3,99 milhões de boe prevista para 2015. Também a previsão para 2020 foi reduzida, de 6,4 milhões para 5,7 milhões de boe/dia, ou 11% menos.

Editorial – O Estado de S.Paulo

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