Biometano e descarbonização foram tema do segundo painel do evento Painéis da Engenharia, realizado pelo SENGE-RS nesta quarta-feira (11). Com o patrocínio do CREA-RS, o evento foi realizado em homenagem ao Dia do Engenheiro, celebrado no mesmo dia.

A professora da UFRGS, Lorena Fleury, falou sobre a transição energética e a descarbonização sob uma perspectiva sociológica. Ela destacou a importância de discutir esses temas de forma multidisciplinar, já que questões técnicas e sociais estão intrinsecamente conectadas. Fleury introduziu o conceito de “imaginários sociotécnicos”, sugerindo que as decisões tecnológicas, como a escolha de uma matriz energética, refletem desejos coletivos sobre o futuro e a sociedade que se deseja construir. Ela também explorou o conceito de “Antropoceno”, que descreve a época geológica em que a humanidade se tornou uma força transformadora da Terra, responsável por mudanças climáticas.

Fleury chamou a atenção para a necessidade urgente de mudanças estruturais devido ao impacto humano nas mudanças climáticas, sendo a transição energética e a descarbonização soluções essenciais. No entanto, ela questiona como essas mudanças são implementadas, destacando a possibilidade de uma transição energética injusta, que pode perpetuar desigualdades.

Ela argumenta que, em vez de promover uma verdadeira transformação nas relações entre sociedade e natureza, a descarbonização pode ser reduzida a uma mudança superficial, beneficiando os mesmos grupos e mantendo as desigualdades. A proposta é que a transição energética deve ser vista como um projeto coletivo de sociedade, que envolva uma mudança profunda nas relações de poder e recursos.

O pesquisador da Embrapa, Airton Kunz, destacou a importância de uma cadeia de produção estável e segura. Segundo ele, o biogás está se tornando um componente forte em soluções energéticas, com grande potencial de produção, e a demanda por metano tem impulsionado a expansão da indústria

Kunz enfatizou a importância da segurança no fornecimento para a produção de biometano. Afirmou também que o Brasil tem grandes oportunidades de combinar culturas energéticas e resíduos para otimizar a produção de biogás, e que a Embrapa tem trabalhado no desenvolvimento de tecnologias para apoiar essa cadeia, como o uso de reatores e simulações de processos.

Além disso, o pesquisador abordou a questão dos resíduos gerados pelo processo, como o digestato, que pode ser aproveitado como biofertilizante ou até mesmo, de forma experimental, para a produção de cerveja. “Fizemos cerveja do digestato, garantindo o padrão de qualidade”, explicou, demonstrando que a inovação na utilização dos subprodutos do biogás é possível.

Ele finalizou destacando a importância de entender as “realidades regionais” para o sucesso da implementação de biogás no Brasil, afirmando que “cada região tem suas particularidades, e o biogás deve ser inserido de forma estratégica”.

A mediação do painel foi realizada pelo vice-presidente do Sindienergia-RS, Rafael Salamoni.