Nesta quarta-feira (11), a transição energética para mitigação dos impactos das mudanças climáticas foi tema de mais uma edição dos Painéis da Engenharia, evento promovido pelo SENGE-RS, com o patrocínio do CREA-RS.

O primeiro painel tratou sobre o contexto da transição energética na atualidade, iniciando com a participação do coordenador-geral de Articulação de Políticas para a Transição Energética do Ministério de Minas e Energia (MME), Marco Juliatto, que também atua como diretor substituto do Departamento de Transição Energética da Secretaria Nacional de Transição Energética e Planejamento do MME.

Juliatto iniciou sua palestra destacando o papel do Brasil na liderança da transição energética global, mencionando que o país possui a maior participação de energia limpa entre as 20 maiores economias do mundo. “A nossa matriz energética é da ordem de quase 50% de energias limpas, com altíssima renovabilidade”, afirmou. Ele também ressaltou que o Brasil já apresenta a menor emissão de CO2 associada à energia entre essas economias, dado relevante para a formulação de ações voltadas à transição energética e mudanças climáticas.

O representante do MME também abordou a importância de ampliar a oferta de energia no Brasil. “Precisamos multiplicar por duas vezes e meia o consumo de energia até 2034”, enfatizou, destacando que o Brasil enfrentará um enorme desafio em termos de investimentos, infraestrutura e recursos humanos para atender à crescente demanda.

Por fim, apresentou a Política Nacional de Transição Energética, que inclui o Fórum Nacional de Transição Energética (FONTE) e o Plano Nacional de Transição Energética (PLANTE), ambos criados para garantir a articulação das ações do governo com a sociedade e o setor produtivo. Ele destacou que “a Política de Transição Energética tem como objetivo orientar os esforços do país para essa transição”, com foco na atração de investimentos, na geração de empregos e na inclusão social.

Na sequência, a coordenadora da Assessoria do Clima da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (SEMA/RS), Daniela de Lara, ressaltou a relevância de contextualizar o impacto das mudanças climáticas, mencionando as oscilações de temperatura da Terra nos últimos 400 mil anos. “Essas grandes amplitudes térmicas, que variam de -9 a -12 graus Celsius, até picos de 3 graus, estão diretamente ligadas às concentrações de gases como o dióxido de carbono e o metano.”

Daniela explicou que essas oscilações de temperatura foram naturais ao longo da formação do planeta, mas, atualmente, “a situação mudou com a revolução industrial, que trouxe um aumento significativo das emissões de CO2.” Ela detalhou como o Rio Grande do Sul, devido a suas características geográficas, está cada vez mais suscetível a eventos climáticos extremos, como as inundações devastadoras de maio e abril, que afetaram 95% dos municípios do estado, resultando em 183 mortes e milhares de desalojados.

A engenheira ambiental detalhou as ações da Secretaria Estadual de Meio Ambiente em resposta a este cenário, como a “Agenda Climática 2050”, focada em mitigação, adaptação e resiliência, e o inventário estadual de emissões de gases de efeito estufa, que está sendo desenvolvido com entrega prevista para maio de 2025.

Concluindo o painel, o diretor de Energia da SEMA-RS, Rodrigo Huguenin, iniciou sua palestra citando o economista austríaco Petra, que afirma que “a tempestade é a terra da destruição criadora”, sugerindo que, muitas vezes, é necessário destruir algo para criar algo novo. Para ele, a transição energética exigirá a “complementariedade de Engenharia” e não dependerá de uma única fonte de energia, destacando a importância de diversas soluções como energia solar, eólica e biomassa.

Huguenin destacou o crescimento da energia solar fotovoltaica no Estado, que “nos últimos recortes de 2013 para cá, cresceu em torno de quase 7%”, e mencionou que o Rio Grande do Sul possui atualmente 85% da matriz elétrica renovada. Ele também abordou o impacto das emissões de gases de efeito estufa, especialmente no setor de transportes, que responde por quase 60% das emissões do RS, enfatizando a necessidade de soluções para “descarbonizar” e “eletrificar” o transporte.

Em relação à recente catástrofe de maio, o representante da SEMA-RS falou sobre os desafios enfrentados no sistema elétrico, destacando a inundação da subestação de Nova Santa Rita e a colaboração com diversos órgãos para restabelecer a energia no Estado, revelando vulnerabilidades que estão sendo tratadas no plano de recuperação.

O diretor também abordou o futuro do hidrogênio verde, mencionando que o Rio Grande do Sul se destaca no Brasil, com um mercado doméstico crescente para “amônia verde e fertilizantes hidrogenados”, devido à sua grande produção agrícola.

Por fim, ele mencionou as iniciativas para expandir o uso de biogás e biometano, com programas voltados para produtores rurais, e reafirmou o compromisso do governo com a transição energética e a proteção ambiental, bem como a ideia de estreitar os laços com as empresas para o desenvolvimento de projetos sustentáveis no Estado.

O painel contou com a moderação da professora da Unisinos, Adriane Brill Thum.