Fonte: Correio do Povo (07/11)

Ao topo do Morro Santa Teresa, na zona Sul, é possível ter uma das mais privilegiadas vistas da Capital. Do mirante Belvedere Ruy Ramos, ou da Figueira, como é mais conhecido, se vê parte da orla do Guaíba, o complexo administrativo do Estado e os contornos da cidade e da região das ilhas. E deste ponto que sairá neste sábado, a partir das 10h, a caminhada pela área verde e comunidades da região, com um mesmo propósito: a recuperação do Morro Santa Teresa. O movimento iniciado em 2010, quando um projeto do então governo estadual pretendia privatizar parte da área, reúne entidades representativas e a comunidade em geral.

A mobilização, que só será transferida em caso de chuva, tem como objetivo garantir o processo de regularização fundiária das comunidades e a reorganização da Fase (Fundação de Atendimento Sócio-Educativo), que está localizada no pé do morro. E assim concretizar o projeto do Parque Ambiental Morro Santa Teresa, conforme definido em decreto estadual de 2012.

O espaço se tornará uma área de preservação de mata nativa e prédios históricos. "Queremos que a população da cidade possa aproveitar e desfrutar de uma área nobre da cidade", explica o integrante do Sindicato dos Engenheiros do RS (Senge), Vinicius Galeazzi, que participa do Movimento. Ele ressalta que a área tem grande valor ambiental, social e cultural. "Buscamos acabar com a imagem de depreciação da comunidade. A maioria dos mora dores são trabalhadores e são contra a violência", frisa.

Um grupo de trabalho foi formado para garantir as mudanças necessárias. E alguns avanços já foram conquistados, como o chamado "congelamento" das comunidades. A ideia é evitar que o número de moradores aumente. Outro passo importante foi o inicio da regularização da energia elétrica. Nas vias da Vila União Santa Teresa, a CEEE instalou em outubro 64 postes e construiu quase 2 quilômetros de rede. Ainda houve a retirada de cabos clandestinos. O investimento no projeto foi de R$ 298 mil. Na mesma região, a rede está sendo finalizada na Vila Gaúcha.

CAMINHADA CONTRA O PRECONCEITO

Com o processo de regularização das comunidades do topo do Morro Santa Teresa, os moradores esperam romper com alguns estereótipos, como o da violência. O desejo vem ganhando ainda mais força, uma vez que os moradores relatam, mesmo que não abertamente, sofrerem preconceito por residirem no morro.

Para o líder da Associação de Moradores da Vila Gaúcha, Darci Campos dos Santos, os casos de criminalidade registrados recentemente são pontuais e não são diferentes de ocorrências que se dão em outros bairros da cidade. "A maioria é trabalhadora e está lutando para ter a sua casa e construir a sua família, assim como eu fiz, ao longa dos mais de 30 anos que vivo aqui", diz ele, ressaltando que não pretende se mudar.
A Vila Gaúcha reúne cerca de 1.500 pessoas. Santos acredita que a regularização irá valorizar os mora4ores. O presidente ainda enfatiza que a criação de um parque será benéfica para toda a sociedade, que passará a ter um importante espaço turístico.

O presidente da Associação dos Moradores da Vila Padre Cacique, Júlio Pacheco, avalia que o projeto de regularização auxilia que moradores mostrem um outro lado das comunidades. "O estereótipo de que somos comunidade violenta gera impacto social negativo muito grande. Uma discriminação", cita. A presidente da União Santa Teresa, Orlei Maria da Silveira, também defende a valorização do Morro. "A violência não é concentrada ali", afirma. A vila Ecológica também integra as comunidades que estão no processo de regularização.

CURIOSIDADES SOBRE O MORRO SANTA TERESA

Em 1845, o imperador Dom Pedro II se encantou pela região e construiu um colégio para meninas. Em homenagem a sua esposa D. Teresa Cristina, foi chamado de colégio Santa Teresa, que acabou dando nome ao bairro.

Segundo o Centro de Pesquisa Histórica de Porto Alegre, o bairro foi delimitado em 1959. A sua ocupação começou com força no início da década de 50 com a instalação de empresas de comunicação no topo do morro.

O Belvedere Ruy Ramos, próximo à rua Dona Maria, está localizado a 148 metros do nível do mar. Foi erguido em 1976 em homenagem ao deputado estadual Ruy Ramos, que morreu em um acidente de avião.

Na Travessa Paraíso, 71, localiza-se o Solar Paraíso. O prédio serviu de charqueada no século XIX e foi tombado como Patrimônio Cultural em 1977. Reconhecido como sítio arqueológico em 1994, foi restaurado em 2000.