Agenda 2020 (4/10/13)
Um dos grandes desafios das sociedades modernas é o desenvolvimento tecnológico. Em tempos de Modernidade Líquida, como define o sociólogo Zigmund Bauman, onde as novidades surgem em uma velocidade cada vez maior, acompanhar esse processo de intensa mudança torna-se ao mesmo tempo essencial e complexo. Incentivada pela Agenda 2020, uma das saídas encontradas para aprimorar a oferta de novos serviços e produtos tecnológicos é a aposta em parques tecnológicos, verdadeiros centros inovadores de desenvolvimento, integração e articulação entre poder público, empresas e universidades.
No Rio Grande do Sul, o investimento nesses parques vem ganhando força nos últimos anos, e se tornando não apenas um local de desenvolvimento tecnológico, mas também uma saída econômica para os municípios onde estão inseridos, como ressalta o coordenador do Tecnopuc, Roberto Moschetta. O entendimento é do gestor de um dos principais parques tecnológicos do estado. Fundado há dez anos, o Tecnopuc gera hoje aproximadamente cinco mil empregos diretos e tem em suas dependências 102 empreendimentos. O sucesso desse parque deu-se prioritariamente através de recursos privados, o que acontece também com o Tecnosinos, ligado a Universidade do Vale do Sinos (UNISINOS). Localizado na cidade de São Leopoldo , o Tecnosinos gerou no ano passado 500 empregos diretos com média salarial de R$ 3.600. A coordenadora do Tecnosinos, Susana Kakuta, ressalta o impulso regional causado pelo parque: “essa média salarial causa um impacto municipal e regional. 30% das vagas são preenchidas por moradores de São Leopoldo, as outras 70% acabam sendo ocupadas por moradores de outros municípios da região, um entorno com raio de 50 km do parque.”
Nos dois parques, o investimento público se mostrou bastante tímido ao longo dos anos. Segundo Kakuta, apenas em 2011 o Tecnosinos teve o primeiro aporte financeiro vindo do governo estadual no valor de R$ 1,8 milhão em um empreendimento que já recebeu mais de R$ 180 milhões em investimentos. Apesar disso, Kakuta ressalta a importância desse dinheiro, que possibilitou a construção da segunda incubadora do parque. Esses pequenos valores são resultado de uma política ainda em consolidação na área de tecnologia e desenvolvimento, recente por parte do estado, já que o cadastramento dos parques iniciou apenas em 2009. É em razão dessa inconstância quanto ao desenvolvimento tecnológico, que Moschetta defende que os parques tecnológicos estejam vinculados a universidades para evitar dependência de governos que mudam a cada quatro anos. O gerente do Tecnopuc destaca o fato de as universidades estarem mais adaptadas para o gerenciamento destes parques, pois ao contrário do poder público, não esbarram nas dificuldades burocráticas. “Os parques estaduais podem crescer se tiverem sistemas de gestão eficazes e o governo zelar pela manutenção desse sistema. Porém, é muito importante que os parques estejam ligados a universidades, pois estas conseguem gerenciar a questão das inovações com mais recursos.
Ambientes de inovação são para coisas novas e o estado trabalha com coisas já regradas.” A coordenadora do Tecnosinos, Susana Kakuta, segue a mesma linha de Moschetta, e defende a vinculação direta dos parques com entidades privadas e ligadas ao ensino. “Ser privado é uma vantagem competitiva, pois garante mais solidez ao parque.”
Ao contrário de Tecnopuc e Tecnossinos, o Valetec, parque localizado na cidade de Campo Bom e vinculado a universidade Feevale, teve seu crescimento e desenvolvimento diretamente vinculado ao apoio de recursos públicos, especialmente provenientes do governo do estado. De acordo com o diretor executivo Alexandre Peteffi, desde sua criação em 2006, o parque já captou cerca de seis milhões de reais através de projetos aprovados junto aos governos federal e estadual. Em 2012, o governo do estado investiu dois milhões de reais no parque, que desde 2006, ano de sua fundação, captou um total de seis milhões de reis através de editais. Com esses valores, foi possível ampliar as áreas de atuação, permitindo que o parque montasse uma nova estrutura na cidade de Novo Hamburgo, tendo agora dois espaços para o desenvolvimento tecnológico. Apesar de considerar os recursos disponibilizados adequados até o momento, Peteffi acredita ser possível ampliá-los: “sempre pode haver mais investimento. Estamos em um nível adequado, mas o poder público poderia investir mais. Existe a necessidade permanente da colaboração dos governos estadual, municipal e federal.” Pettefi revela que o apoio municipal se dá principalmente através de doação de terrenos.
Entre os anos de 2011 e 2012, o governo estadual destinou R$ 24,5 milhões aos parques tecnológicos e a previsão é de um total de R$ 50 milhões até 2014. Voluntário da Agenda 2020, Julio Ferst considera esses valores ainda baixos, porém entende que o governo tem demonstrado acreditar na proposta. Com a autoridade de quem esteve dentro da Secretaria de Ciência e Tecnologia durante o governo Yeda Crusius e iniciou o processo de investimento em parques tecnológicos, Ferst faz uma análise positiva da política atual: “eu acho que esse valor investido é pequeno, mas com certeza é bastante significativo em relação ao início da política de parques. Esse governo demonstra vontade de investir na área de parques tecnológicos. À medida que os parques começarem a funcionar, gerar emprego e renda, os valores vão crescer. O primeiro foi de R$ 10 milhões, isso significa que apesar da troca de governo, o atual demonstra vontade de investir nos parques.”
O governo divide os parques em três momentos: em implantação, em consolidação e consolidados. O Rio Grande do Sul possui 15 parques tecnológicos cadastrados em diferentes fases e desses apenas três são considerados consolidados, ou seja, estão em pleno funcionamento, Tecnopuc, Tecnosinos e Valetec.
As etapas dos parques
Com a inauguração das instalações do UPFTec, na cidade de Passo Fundo, prevista para 17 de outubro, o estado terá quatro parques funcionando, integrando-se aos três já consolidados (Tecnopuc, Tecnosinos e Valetec). Existe ainda a previsão de que até o final do ano comecem a funcionar o Tecnoparque de Santa Maria e o Oceantec em Rio Grande. O objetivo é que até o final de 2014 mais três parques sejam inaugurados.
A vinculação com universidades locais, vital para o funcionamento de um parque de acordo com gestores experientes, é quase regra. Dos 15 cadastrados, apenas em Canoas e Pelotas os projetos estão ligados com os governos municipais. Já em Santa Maria, o parque tecnológico é uma ação composta por três universidades, sindicatos e associações, além do poder público.
Longe das capitais
Uma das apostas atuais é a instalação de parques no interior do Rio Grande do Sul, em cidades mais afastadas dos grandes centros urbanos. Isso se dá em razão da crença de que os parques podem atrair investimentos de empresas e gerar empregos. Embora esse fato seja realidade, o coordenador do Valetec Alexandre Peteffi, adota uma postura cautelosa quanto o grande número de parques nascendo no estado. Para ele, é preciso ter cuidado e pensar a viabilidade técnica destes empreendimentos: “se não existe apoio de fato (faculdades), tornam-se loteamento industrial. É preciso pesquisa competente para dar suporte. Tenho minhas dúvidas se todos (parques cadastrados) vingarão ao longo do tempo. Não é uma coisa simples de administrar e o retorno financeiro é demorado. Fica a preocupação de se criar parques, e em dois ou três anos eles encerrarem suas atividades.”
Para Ferst é fundamental um esforço coletivo para os parques funcionarem efetivamente. O voluntário da Agenda 2020 ressalta ainda importância de manter o foco voltado para a pesquisa: “posso dizer que não é um esforço de uma única pessoa. A criação de um parque tecnológico é o esforço de uma comunidade. Provavelmente nos próximos anos não teremos 15 parques em atividade, mas com o processo em andamento. Se o parque não visa pesquisa e inovação, juntamente com agentes de pesquisa, (instituições), ele pode se tornar não um parque mas um distrito industrial.”
A coordenadora do RS Tecnópole, setor responsável pelo diálogo da Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do estado, Renata Ferraz, garante que o governo já tomou as iniciativas para se evitar o insucesso dos parques. “Em 2012 lançamos um novo decreto detalhando alguns critérios, para que se tenha um cuidado maior, e não ser (os parques) apenas uma moda. Não se pode destinar apenas apoio financeiro, é necessário garantir um processo de gestão madura. Estamos orientando o máximo possível esse projeto de gestão. Esse decreto pincela pensando nesse viés.” Entre as estratégias estão as medidas para definir os estágios de cada parque bem como a destinação de recursos .
A coordenadora do Tecnosinos, Susana Kakuta, chama atenção ainda a uma questão que considera fundamental para o sucesso dos parques tecnológicos: a formação básica de quem ali irá trabalhar. Kakuta defende que o principal mérito de um parque tecnológico é o talento. “Um desafio importante é a especialidade. Um parque tecnológico exige foco, que você seja bom em alguma coisa. Tem que criar um ambiente competitivo nessa área. Não acreditar que a infraestrutura física seja o mais importante no parque tecnológico. O mais importante é você ter talentos em quantidade e qualidade suficiente para alimentar as empresas. Isso envolve qualidade de ensino, obviamente o ensino público, dentro da educação fundamental. Em nosso parque nós temos permanentemente vagas abertas. Se o estado quer alavancar essas novas economias, é fundamental fortalecer o ensino das ciências exatas.”
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