03/05/2022

ENTREVISTA | ‘Reforma trabalhista não cumpriu o que prometeu’

 

Domingo foi o Dia Internacional do Trabalhador, celebrado em diversos países. Questões trabalhistas sempre são alvo de discussão no Brasil, seja através de reformas, como a que aconteceu em 2017, ou com temas do momento, caso da pandemia, que popularizou e consolidou mudanças como o teletrabalho. Para refletir sobre questões trabalhistas, o Jornal da Lei entrevistou o juiz do trabalho e presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da IV Região (Amatra IV), Tiago Mallmann Sulzbach. Para o magistrado, não existe desenvolvimento econômico sem o trabalho humano e isso, por si só, explica a necessidade de valorização do trabalhador. Sulzbach também traz reflexões sobre temas importantes como a reforma trabalhista de 2017 que, segundo ele, não cumpriu o que foi prometido na época, e possíveis problemas que o aumento do trabalho informal pode causar no País.

Jornal da Lei – Na sua visão, qual mensagem o Dia do Trabalhador deveria deixar para a sociedade?

Tiago Mallmann Sulzbach – O Dia do Trabalhador é comemorado como uma espécie de lembrança sobre a importância de valorizarmos o trabalho humano. Também há uma série de razões históricas: não existe desenvolvimento econômico sem trabalho humano. Algumas pessoas dizem que não há também sem o capital, é verdade. O trabalho e o capital são duas faces da mesma moeda que precisam cooperar entre si, de modo a providenciar nosso desenvolvimento econômico e social. A questão toda é que, no âmbito dessa dinâmica do capital do trabalho, muito frequentemente o capital é quem detém, digamos, a maior força na negociação. Daí o porquê de no mundo inteiro haver, desde o passado, um longo caminhar pelo reconhecimento dos direitos trabalhista.

JL – Estamos diante de aumento no número de trabalha-dores informais no Brasil. Quais podem ser os problemas disso para o País?

Sulzbach – O trabalho informal traz um problema previdenciário, porque normalmente o informal não recorre à previdência pública, o que aumenta o rombo e, consequentemente, ele acaba não tendo nenhuma segurança social. O que temos observado e que nos chama atenção, é o que se convencionou a chamar de "uberização" da economia, e acabamos tendo milhões de trabalhadores no Brasil completamente precarizados com esse aspecto da segurança. Se ele sofre algum acidente e não está coberto pelo INSS, o que faz essa pessoa? Se ela estivesse no regime celetista, teria todo o campo de proteção social.

JL – A reforma trabalhista completa cinco anos em 2022. Como avalia sua efetividade e desdobramentos ao longo desses primeiros anos?

Sulzbach – A reforma trabalhista tinha uma promessa de que sua modernização geraria milhares de empregos. Chegaram a ser ditos números como cinco, seis e até 12 milhões. O que acabou acontecendo? O que prenuncia a geração de empregos e garante a regulação de informais é o crescimento econômico, não a pura e simples precarização das relações de trabalho. Entre essa expectativa de geração de milhões de empregos, na realidade se observou que, segundo o IBGE, antes da pandemia, em 2019, tínhamos 13 milhões de empregados, 6 milhões de desalentados e 28 milhões de informais. Nos prometeram um paraíso e acabou acontecendo que não tivemos esse desenvolvimento econômico prometido. O que se observa no Brasil é que sempre a próxima reforma parece que vai resolver. E aqui cumprimos todo o receituário, fizemos reforma da previdência, trabalhista, e nada disso gerou o crescimento prometido. Esse pensamento mágico de que a reforma trabalhista por si só resolveria nossos problemas econômicos evidentemente não deu certo.

JL – E agora, na sua visão, que discussão em âmbito trabalhista deve ser trazida à tona?

Sulzbach – Vamos ter que de algum modo regular o trabalho informal e trazer um pouco da proteção do Direito do Trabalho, não necessariamente a CLT, aos informais. O que tem acontecido no âmbito da informalidade no Brasil é algo alarmante, não só do ponto de vista do respeito à dignidade humana, mas também sob o viés econômico, porque essas pessoas, em algum momento, ficarão mais velhas e serão apartadas do mercado de consumo. Isso não é bom para a nação. Não é bom para a economia, e nem para ninguém. É muito atual essa questão do trabalho por aplicativos, e não só isso, mas no trabalho informal num geral, precisamos resgatar um debate lá da década de 1990, que é o de levar alguma proteção aos informais. Quando falo proteção social, não é só a previdenciária. Arrumar uma forma de os informais poderem se manter no mercado de consumo, ainda que estejam doentes, por exemplo, é do interesse do capital e não só do trabalho. E daí a importância de trazermos essa pauta.

 

Participe do CICLO DE PALESTRAS SENGE: Reforma Trabalhista – Desafios e perspectivas no mundo do trabalho.
Inscrições gratuitas. 

 

Leia também

01/12/2023

20 de novembro: Câmara aprova Dia da Consciência Negra como feriado nacional

01/12/2023

Seminário sobre indústria de semicondutores no Brasil: assista!

01/12/2023

SENGE-RS sedia 1º Encontro Gaúcho de Engenheiros Civis (EGENC) da ABENC-RS

Descontos DELL Technologies

Aproveite os descontos e promoções exclusivas para sócios do SENGE na compra de equipamentos, periféricos e serviços da DELL Technologies.

2º lugar em Preferência na categoria Sindicato

Marcas de Quem Decide é uma pesquisa realizada há 25 anos pelo Jornal do Comércio, medindo “lembrança” e “preferência” em diversos setores da economia.

Tenho interesse em cursos

Quer ter acesso a cursos pensados para profissionais da Engenharia com super descontos? Preencha seus dados a seguir para que possa entrar em contato com você:

Realizar minha inscrição

Para realizar a sua inscrição, ao preencher o formulário a seguir, escolha o seu perfil:

Profissionais: R$ 0,00
Sócio SENGE: R$ 0,00
Estudantes: R$ 0,00
Sócio Estudantes: R$ 0,00
CURRÍCULO

Assine o Engenheiro Online

Informe o seu e-mail para receber atualizações sobre nossos cursos e eventos:

Email Marketing by E-goi

Ao fornecer seu dados você concorda com a nossa política de privacidade e a maneira como eles serão tratados. Para consulta clique aqui

Tenho interesse em me associar

Se você tem interesse de se associar ao SENGE ou gostaria de mais informações sobre os benefícios da associação, preencha seus dados a seguir para que possa entrar em contato com você:

Ao fornecer seu dados você concorda com a nossa política de privacidade e a maneira como eles serão tratados. Para consulta clique aqui

Entre em contato com o SENGE RS

Para completar sua solicitação, confira seus dados nos campos abaixo:

× Faça contato