26/04/2022

Impasse trava mudança na Lei Kiss

 

Apresentado no início de 2020 pelo deputado Paparico Bacchi (PL), um projeto de lei complementar que altera a Lei Kiss estadual está prestes a ser votado na Assembleia Legislativa. O objetivo da proposta é permitir que técnicos industriais de nível médio possam ser responsáveis por projetos dos planos de prevenção e proteção contra incêndios (PPCIs). Atualmente, a atribuição é restrita a engenheiros e arquitetos, profissionais de nível superior.

O texto estava apto a ser votado na sessão do dia 19, mas a apreciação foi adiada a pedido do autor, sobretudo em razão da resistência de entidades que representam os engenheiros e arquitetos. Embora siga na ordem do dia e possa ir ao plenário hoje, a tendência é de novo adiamento.

Para tentar construir um acordo que viabilize a aprovação, Paparico protocolou emenda frisando que a atuação dos técnicos deve estar de acordo com normas federais que regulam a profissão. Dentre elas, está um decreto de 1985 que limita a atuação dos profissionais a edificações de até 80 metros quadrados de área construída.

– A lei é boa, não ofende ninguém. Queremos que os técnicos possam se responsabilizar por projetos pequenos, de até 80 metros quadrados – diz Paparico.

Ele ressalta que a iniciativa daria mais celeridade à emissão dos PPCIs. Estimativa preliminar aponta que cerca de 3 mil profissionais poderiam atuar nesse trabalho caso o projeto seja aprovado.

Conhecida popularmente como Lei Kiss, a legislação que estabelece normas sobre segurança, prevenção e proteção contra incêndios no Rio Grande do Sul foi aprovada pela Assembleia em 2013 e sancionada no mesmo ano pelo então governador Tarso Genro (PT). O texto foi elaborado a partir de discussões entre especialistas gaúchos, nacionais e internacionais em uma comissão especial criada na Assembleia. A norma prevê que os PPCIs podem ser elaborados apenas por profissionais registrados junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) ou ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).

Na época em que a lei começou a vigorar, os técnicos ainda estavam vinculados ao Crea – desde 2018, respondem ao Conselho Regional dos Técnicos Industriais (CRT). Naquele período, eles emitiram anotações de responsabilidade técnica (ARTs) para PPCIs. Esse documento indica o responsável técnico por um projeto e descreve os serviços prestados.

O Crea-RS sustenta que se trata de prática irregular, visto que só engenheiros e arquitetos poderiam emiti-las, e anunciou que vai anular ARTs lançadas por técnicos para edificações acima de 1 mil metros quadrados.

Presidente da comissão especial que elaborou o texto original, o ex-deputado Adão Villaverde (PT) rejeita a alteração proposta por Paparico e interpreta a iniciativa como mais uma tentativa de fragilizar a lei. Desde que foi sancionado, o texto já sofreu mais de cem alterações, contabilizados os ajustes na redação.

Embate e interpretações diferentes entre entidades

Em paralelo à tramitação no Legislativo, a proximidade da votação suscitou embate entre as categorias profissionais, com diferentes interpretações sobre a legislação federal que regulamenta a atuação dos técnicos.

Quem lidera a mobilização contra a aprovação do projeto de lei é a engenheira Nanci Walter, presidente do Crea-RS. O principal argumento da entidade é de que os técnicos não têm a capacitação necessária para assinar os PPCIs.

– O PPCI não é um simples formulário, reúne laudos muito complexos. Se o projeto passar, estaremos trazendo para a legislação profissionais que não estão habilitados para fazer esses projetos técnicos do PPCI – ressalta Nanci.

A conselheira admite que, quando estavam ligados ao Crea, os técnicos emitiam as anotações de responsabilidade técnica (ARTs) para os PPCIs, mas diz que faziam isso de maneira irregular.

– Estamos dispostos ao diálogo. Se não houver, o Crea vai buscar a judicialização, mas é a última coisa que queremos fazer – afirma.

Em contraponto, o presidente do Conselho Regional dos Técnicos Industriais do Estado (CRT- RS), Ricardo Nerbas, diz que os profissionais têm competência para atuar na área e ressalta que a adição dos técnicos ampliará a concorrência na prestação desse tipo de serviço.

– Queremos o direito de atuar em pequenos serviços. No Interior, em um clube, um boteco, um armazém que vende gás, por exemplo. Queremos fazer o que a lei nos permite – destaca.

Embora a votação esteja prevista para hoje, Nerbas diz que os técnicos desejam debater a proposta em audiência pública:

– Quando explicarmos nossas razões, a Assembleia aprovará o projeto, porque é justo e correto.

Críticas

Na semana passada, o Crea-RS, o CAU-RS e outras sete entidades emitiram nota sugerindo que o projeto seja “rechaçado” pela sociedade. Diretor do Sindicato dos Engenheiros do RS, uma das entidades que subscrevem o comunicado, o engenheiro João Leal Vivian avalia que a Lei Kiss seria fragilizada com a mudança.

Outro que discorda da alteração é o professor João Paulo Correia Rodrigues, da Universidade de Coimbra (Portugal). Referência internacional na área de prevenção e proteção contra incêndios, Rodrigues ressalta que a segurança contra os incêndios é matéria complexa, que demanda estudos de diversas áreas das engenharias.

Comandante do Corpo de Bombeiros Militar do RS, o coronel Luiz Carlos Neves Júnior avalia que a Assembleia tem legitimidade para alterar a legislação, mas deve observar a competência técnica de cada profissional, sem entrar no mérito do projeto.

Paulo Egídio (Jornal Zero Hora)

 

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO E GARANTA SUA VAGA NO 2º ENCONTRO RIOGRANDENSE DE SEGURAAÇA CONTRA INCÊNDIO

 

 

Leia também

09/10/2024

NOVIDADE! Agora irmãos de associados também podem ter benefícios exclusivos

08/10/2024

Seminário discute soluções para reservação de água e irrigação

08/10/2024

SENGE-RS participa da 79ª SOEA, em Salvador

Descontos DELL Technologies

Aproveite os descontos e promoções exclusivas para sócios do SENGE na compra de equipamentos, periféricos e serviços da DELL Technologies.

Livro SENGE 80 anos

Uma entidade forte, protagonista de uma jornada de inúmeras lutas e conquistas. Faça o download do livro e conheça essa história!

Tenho interesse em cursos

Quer ter acesso a cursos pensados para profissionais da Engenharia com super descontos? Preencha seus dados a seguir para que possa entrar em contato com você:

Realizar minha inscrição

Para realizar a sua inscrição, ao preencher o formulário a seguir, escolha o seu perfil:

Profissionais: R$ 0,00
Sócio SENGE: R$ 0,00
Estudantes: R$ 0,00
Sócio Estudantes: R$ 0,00
CURRÍCULO

Assine o Engenheiro Online

Informe o seu e-mail para receber atualizações sobre nossos cursos e eventos:

Email Marketing by E-goi

Ao fornecer seu dados você concorda com a nossa política de privacidade e a maneira como eles serão tratados. Para consulta clique aqui

Tenho interesse em me associar

Se você tem interesse de se associar ao SENGE ou gostaria de mais informações sobre os benefícios da associação, preencha seus dados a seguir para que possa entrar em contato com você:

Ao fornecer seu dados você concorda com a nossa política de privacidade e a maneira como eles serão tratados. Para consulta clique aqui

Entre em contato com o SENGE RS

Para completar sua solicitação, confira seus dados nos campos abaixo:

× Faça contato