A inteligência artificial costuma ser associada a robôs, algoritmos e ao medo de que máquinas substituam pessoas. Mas, na visão do engenheiro Vinícius Marchese, o centro dessa discussão deveria estar em outro lugar: na infraestrutura necessária para que essa tecnologia exista – e no papel decisivo da Engenharia nesse processo. A fala foi feita durante o 29º Painéis da Engenharia, promovido pelo SENGE-RS com apoio do CREA-RS e do Confea, em Porto Alegre.
Marchese reforçou que a inteligência artificial deve ser vista como ferramenta, não como fim em si mesma. Para a maior parte dos profissionais, segundo ele, a tecnologia não é uma ameaça, mas mais um passo natural, como já foram o computador e a internet. A pergunta que realmente importa hoje, na visão do presidente do Confea, é outra: o que precisa estar construído e funcionando no país para que a IA possa operar em escala?
É aí que entram números incômodos. O Brasil tem hoje cerca de 5,6 profissionais de Engenharia para cada mil habitantes. Ele comparou esse dado com outros países: nos Estados Unidos, são cerca de 25 por mil habitantes; na China, 13 por mil, mesmo com uma população de 1,4 bilhão de pessoas. Marchese foi direto: não existe país desenvolvido no mundo com a proporção de engenheiros que o Brasil tem, e a chance de o país virar a primeira exceção é “zero”. Ao mesmo tempo, a formação está encolhendo: de cada 100 estudantes que entram em cursos ligados ao Sistema Confea/Crea, apenas 35 concluem a graduação, e só 15 seguem carreira na área. Nos últimos oito anos, o país perdeu 30% dos estudantes de Engenharia, com destaque negativo para a Engenharia Civil, que registra queda superior a 50% no número de alunos.
Essa escassez de profissionais aparece justamente no momento em que a demanda por Engenharia tende a crescer. Marchese lembrou que não há inteligência artificial sem infraestrutura física robusta. Para que a IA funcione, são necessários centros de dados (data centers), grande capacidade de processamento (GPUs), energia elétrica em volume e qualidade suficientes e processos menos burocráticos para viabilizar a instalação dessas estruturas. Ele citou, inclusive, uma admissão recente do CEO responsável pelo ChatGPT, que reconheceu ter subestimado a necessidade de investimento em data centers diante do crescimento da ferramenta.
Nesse contexto, o Brasil aparece no radar global com uma previsão de investimento de cerca de 60 bilhões de dólares em data centers até 2030. Para Marchese, isso é “atividade de engenharia pura”: envolve projetos e obras de construção civil, instalações elétricas, sistemas de refrigeração, redes, automação, segurança e energia. É um campo de trabalho que, segundo ele, pode garantir boa remuneração por pelo menos 15 anos em diversas áreas da Engenharia, desde que o país consiga se organizar para atrair e executar esses projetos.
Ao mesmo tempo, parte dessa infraestrutura já está sendo instalada em outros países ou concentrada em poucos pontos do território brasileiro. Marchese mencionou a expansão de data centers em países como o Chile, a formação de hubs em regiões específicas do Brasil e o fato de que o Rio Grande do Sul está no radar, mas ainda sem protagonismo definido. Segundo ele, muitos prefeitos e gestores já começam a aprovar leis municipais para facilitar a chegada de investimentos, mas frequentemente falta o elemento decisivo: projetos concretos, consistentes e elaborados pela Engenharia local.
Quando fala em regulamentação e ética no uso da IA, Marchese não ignora o debate jurídico e político. Ele citou o Projeto de Lei 2338/2023, já aprovado no Senado e em discussão na Câmara dos Deputados, e foi transparente ao reconhecer que o Sistema Confea/Crea ainda não tem força política organizada no Congresso. O maior desafio hoje, na avaliação dele, não é criar uma proposta paralela de regulamentação, mas conseguir ser ouvido no processo legislativo.
Ao encerrar sua fala, o presidente do Confea deixou um recado claro ao público: discutir inteligência artificial na Engenharia não é apenas falar de algoritmos, interfaces ou comandos na tela. É olhar para a base que sustenta tudo isso – infraestrutura, energia, formação de profissionais, capacidade de projeto – e entender que o futuro da IA no Brasil passa, necessariamente, pela valorização e pelo protagonismo da Engenharia.
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