11/07/2022

No centro do Estado, agrônomos usam tecnologia para avaliar o solo e recomendar fertilização personalizada nas lavouras

Empresa foi criada em 2004, dentro da incubadora tecnológica da Universidade Federal de Santa Maria, e teve seus serviços ampliados no decorrer dos anos.

Rastros de terra que cobrem a sala indicam o material mais examinado no laboratório da empresa Base — Precisão na Agricultura. Em sacos do tamanho de uma mão, ficam amostras ainda úmidas de solo, recém chegadas de lavouras de diferentes municípios do Rio Grande do Sul. Depois de secas e moídas, todas passarão por análises para identificar ao menos 15 elementos que podem apontar o estado nutricional do solo.
— É como um exame de sangue, em que se colhe a amostra e analisa glicose, colesterol… Nós analisamos argila, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, cobre, zinco, entre outros. E enquanto um exame de sangue é interpretado por médicos, nossos laudos são interpretados por agrônomos — explica Ademir Wendling, 45 anos, sócio da Base.

Com sede em Silveira Martins, na região central do Estado, a cerca de 28 quilômetros de Santa Maria e 280 quilômetros de Porto Alegre, a empresa presta serviços de agricultura de precisão — o que ajuda produtores rurais a conhecer, entender e tratar a variabilidade do solo de forma eficiente para aumentar a produtividade. Este trabalho inclui coletas de amostras, análises (de solo, semente e folhas) e recomendação de fertilização, ou seja, qual tipo e quanto de adubo precisa ser aplicado nas lavouras.

Agrônomo formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Wendling conta que a Base foi fundada em 2004, dentro da incubadora tecnológica da instituição, quando ele e o colega Charles Bolson Pontelli, hoje com 44 anos, faziam mestrado. Na época, não planejavam empreender, mas abraçaram a oportunidade de prestar serviço para uma empresa multinacional, disponibilizando treinamentos, demonstrações e testes de campo de máquinas com tecnologias embarcadas.

No ano seguinte, passaram a fazer as coletas de solo para outra companhia, que encaminhava o material para análise em um laboratório terceirizado e ficava responsável pela recomendação. Mas avaliaram que a empresa não tinha a preocupação de gerar bom resultado para o cliente. Assim, em 2008, os sócios investiram na montagem do laboratório de análises de solos e começaram o trabalho de agricultura de precisão. Também seguiram atuando no ramo de mecanização agrícola, com a venda de tecnologias para produtores.

De acordo com Wendling, historicamente, a adubação representa um valor bastante significativo, de 20% a 30%, do total de gastos com as lavouras. Isso porque os solos gaúcho e brasileiro são deficientes e precisam de fertilizantes e corretivos, e, se não houver esse investimento, a produtividade será menor. E se a fertilização for feita de forma errada, o gasto será maior, sem resultar na correção desejada:

— Antigamente, se usava o mesmo adubo para toda uma fazenda. Com o nosso trabalho de coleta, análise e geração do mapa de fertilidade, foi possível identificar a necessidade de volumes diferentes de fertilizantes corretivos no solo. Assim, otimizamos o custo que existe, porque é necessário fertilizar, mas com informações o produtor passa a usar as quantidades corretas nos locais corretos, o que aumenta a produtividade e otimiza o insumo.
Hoje, a Base atende empresas privadas e órgãos públicos de diferentes cidades gaúchas e conta com cerca de 40 funcionários. A mudança para a sede própria, no centro de Silveira Martins, ocorreu em 2015.

Planejamento administrativo e estratégico para superar obstáculos

Para Wendling e Pontelli, uma das principais dificuldades enfrentadas no início do negócio foi descobrir como gerenciar e vender o serviço da Base. Na faculdade, aprenderam toda a parte técnica, mas, ao abrirem a empresa, perceberam que não sabiam como montar uma campanha comercial para atingir o produtor rural. Consultorias especializadas e profissionais da área ajudaram os sócios a driblar o problema.

— Muitas vezes, pecamos nessa organização administrativa, de planejamento estratégico, gestão de pessoas. Fomos aproveitando as oportunidades do mercado, mas a oportunidade de crescer de forma mais ordenada ficou de lado no primeiro momento, por não termos uma formação administrativa e não termos agregado alguém com essa experiência. Se pudesse começar de novo, começaríamos de forma diferente — ressalta Pontelli.

No decorrer do trabalho, outro empecilho se apresentou: a questão da sazonalidade.

— Trabalhamos muito em três meses (maio, junho e julho) e pouco em nove. Isso é um problema da agricultura em si, porque é quando ocorre a colheita de verão, de soja principalmente, que fazemos a amostragem. Ano de quebra de safra também é um problema. Em 2012, percebemos e este ano estamos com dificuldades, porque todo o nosso negócio é voltado para a agricultura. Então, se a agricultura sofre, a gente sofre também — destaca Wendling.

Para não precisar reduzir as atividades nos períodos de menor demanda, a Base faz campanhas comercias com diferenciais de preço e condições de pagamento facilitadas. Além disso, a empresa possui certificação de qualidade da Rede Metrológica do Rio Grande do Sul, o que resulta em um subsídio de até 60% do Sebrae aos produtores, facilitando o acesso aos serviços da Base com custo mais baixo.

Na contra mão de diversas empresas gaúchas, a Base não passou por problemas financeiros ou cortes durante a pandemia de covid-19, bem pelo contrário: teve inclusive aumento de demanda, já que os laboratórios públicos não estavam funcionando e, em 2021, o Estado teve uma boa safra, resultando em maior investimento em correção de solo.

— A atividade rural não parou, mas, no início, tínhamos dúvidas sobre como seria o ano, pensávamos nisso. Talvez, tivéssemos que fechar as portas da empresa em caso de contaminação, mas estávamos preparados para isso — garante Wendling.

Imersão na realidade do cliente para atender necessidade

Para empreender no setor da agricultura, Wendling recomenda busca constante por conhecimento, já que as atualizações tecnológicas são muito dinâmicas, e estar dentro da propriedade do produtor para enxergar o que já existe e o que é de fato aplicável:

— Quem quer empreender tem que conhecer a tecnologia que existe, ter o conhecimento técnico e buscar adaptá-la à realidade do produtor, ao que ele realmente pode aplicar na sua lavoura.
Pontelli complementa citando que investir em gestão de pessoas é fundamental no ramo da prestação de serviços:

— O centro do negócio da empresa está em ter profissionais qualificados e que estejam motivados para levar a empresa para frente — complementa Pontelli.
Outro fator importante ressaltado por Wendling para o crescimento da empresa é o reinvestimento nos primeiros anos.

— No início, os sócios não tinham salário, só uma ajuda de custo. Todo lucro da atividade era reinvestido na empresa para aquisição de sede própria, veículos, equipamentos de qualidade. Nos estruturamos muito bem para depois começar a tirar parte do lucro para investir em outro lugar — explica.

Reconhecimento de mercado para ampliar área de atuação

O Estado possui um bom mercado para quem quer empreender na área de agricultura, pois ainda há lacunas no leque de soluções ofertadas aos produtores. Entre os ramos que estão crescendo e precisam de empresas e profissionais, os sócios da Base citam agricultura biológica, assistência técnica e tecnologias para máquinas agrícolas.

Diante das possibilidades, ao longo dos anos, a Base ampliou o número de serviços disponibilizados e, além da análise de solo, passou a oferecer análise de sementes e folhas.

— Sabíamos que se precisaria de análise de fertilizantes e de análise biológica. E essa é uma das coisas em que estamos buscando investir, porque tem outros serviços de campo que poderíamos oferecer. Então, tem muito campo. Acho que um profissional capacitado no Estado sempre tem oportunidade e é muito requisitado — afirma Wendling.

A empresa deseja ampliar ainda mais sua atuação, mas precisa aumentar o número de funcionários internos e a equipe técnica comercial. Wendling indica que, antes de fazer esse tipo de movimento, os empreendedores avaliem se estão consolidados no mercado e se contam com profissionais capacitados para o novo serviço, estrutura física adequada e condições financeiras para manter a ampliação.

Atualmente, os sócios da Base buscam estratégias para a manutenção de profissionais com conhecimento técnico e destinam parte do lucro da empresa ao desenvolvimento de uma fazenda modelo para aplicar suas tecnologias e obter um diferencial produtivo que sirva de exemplo aos produtores gaúchos.

Investimento em tecnologia para automação de processos

Em um espaço de 700 metros quadrados, funcionários se dividem para cumprir a demanda de trabalho que, nesta época do ano, chega a mil análises por dia. Não há divisórias físicas, mas em uma área são examinados os elementos do solo e na outra, das sementes – os ritmos e metodologias de trabalho são bem diferentes.

No início, os sócios não tinham salário, só uma ajuda de custo. Todo lucro da atividade era reinvestido na empresa para aquisição de sede própria, veículos, equipamentos de qualidade. Nos estruturamos muito bem para depois começar a tirar parte do lucro para investir em outro lugar.

— Outono é o período depois da colheita da soja, quando começa a coleta de solo, então aumenta bastante o número de análises. Enquanto em janeiro não fazemos mil por semana, agora fazemos mais de mil por dia — relata Graziele Dias Wendling, esposa de Ademir e responsável técnica pelo laboratório.

A agrônoma explica que algumas etapas das análises de solo, sementes e folhas são manuais e, outras, automatizadas:

— As máquinas ajudam a dar velocidade e precisão ao processo. São várias “receitinhas de bolo”, que temos que seguir à risca para analisar cada um dos elementos.

Os resultados obtidos pelos equipamentos do laboratório são salvos e gerenciados por um software, dando origem ao laudo. Segundo o sócio Ademir Wendling, para aumentar a capacidade operacional e garantir a qualidade do serviço, é importante automatizar os processos, investindo em tecnologia.

 

Fonte: GZH / Fotos Jefferson Botega (Agência RBS)

 

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