Dá uma certa inveja observar o mapa do crescimento econômico da América do Sul. Todos os vizinhos fecharam o ano passado com taxas de expansão maiores que a do Brasil. Nosso modesto crescimento do PIB, de 2,7%, foi superado em larga margem pelo principal país parceiro e rival, a Argentina, com 8,8%. Peru, Chile, Colômbia e
Uruguai cresceram a taxas duas vezes maiores que a brasileira.
Ao olhar para toda a América Latina, mais inveja. A economia da região cresceu em média 4,3% e apenas dois países apresentaram taxas inferiores à do Brasil – Guatemala e El Salvador.
Por que, afinal, isso ocorre com o País, que tem tudo para ser a locomotiva continental? As razões são várias, com toda a certeza, mas prefiro fixar-me em uma delas, que parece ser essencial neste momento: a indústria brasileira está entrando em colapso, ou está sendo “depenada”, para usar o termo cunhado pelo mestre e ex-ministro Delfim Netto.
À medida que as economias se desenvolvem, é natural que passem a se ancorar mais no setor de serviços e menos no industrial. Mas o encolhimento da indústria no Brasil ultrapassa os limites da normalidade. Depois de chegar a responder por 26% do PIB, o peso da indústria de transformação caiu para 16% em 2010 e para 14,6% em 2011, próximo da era pré-JK, nos anos 1950.
O desempenho pífio da indústria, que cresceu apenas 1,6% no ano passado, enquanto o setor de serviços avançava 2,7% e o agropecuário, 3,9%, tem puxado para baixo o PIB médio do País. Para este ano, as estimativas indicam que o setor industrial vai ter novamente uma expansão modesta, inferior a 3%.
A causa dessa apatia da indústria não é segredo para ninguém: perda de competitividade provocada por vários fatores, como a elevada carga tributária e de encargos, o alto custo de insumos, especialmente energia, o peso dos juros internos nos financiamentos e – por último, mas não menos importante – a excessiva valorização do câmbio.
Olhando assim, parece fácil buscar correções. Mas a coisa não é tão simples. Esses problemas se acumulam há décadas e exigem enfrentamento persistente e corajoso.
Dado o estágio de industrialização atingido pelo País, não faz o menor sentido abandonar o barco da indústria neste momento. Deve-se prosseguir na adoção de uma política industrial ativa, que já vem sendo ensaiada no País.
O governo tem condições para, sem constrangimentos, dar apoio irrestrito a setores em que a vocação industrial brasileira é indiscutível, como agronegócios em geral, energia renovável, calçados, têxteis, móveis e siderurgia, entre outros.
O apoio irrestrito ao setor industrial depende da persistência na correta política já adotada de redução dos juros reais da economia, até que eles se aproximem de padrões internacionais. Depende também da manutenção e ampliação do acesso ao crédito de longo prazo por meio do Bndes e de outras instituições. Depende do incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias pelo setor privado. Depende do destravamento de obras de infraestrutura, muitas delas emperradas por pendências burocráticas e ambientais.
Depende do uso, também sem receios, do programa bilionário do pré-sal para impulsionar a indústria de plataformas e outros equipamentos pesados. E depende, enfim, da permanente vigilância para proteção do mercado interno contra o assédio desleal de competidores externos neste momento de queda de demanda mundial.
Não é mais hora de discutir se há ou não desindustrialização no País. Ela já é um fato e vem sendo acelerada até por algumas estratégias de defesa da própria indústria, que abre mão de produzir componentes no País para importá-los e reduzir custos. A hora é de insistir nas correções de rumos, para que os efeitos se deem no médio prazo.
Felizmente, o País tem condição excepcional para manobrar suas políticas internas sem sobressaltos. Mantém um nível de reservas externas mais do que confortáveis, da ordem de US$ 380 bilhões, tem superávit comerciais, recebe investimentos estrangeiros e usufrui de enorme prestígio internacional.
As correções têm de ser feitas já, enquanto é tempo.
Opinião Econômica – Jornal do Comércio
Benjamin Steinbruch (Diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro-vice-presidente da Fiesp)
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